segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Hot Festival 2010 (Costañera Sur - Buenos Aires - 19/11/2010)



Viagem a trabalho de ultima hora e lá fui eu vender minhas entradas para o Planeta Terra Festival. Mas, para atenuar, fiquei sabendo que rolaria em Buenos Aires, para onde estava indo, um outro festival com algumas bandas que tocariam no Terra. E lá fomos nós sacar qual era do tal "Hot Festival".

Os shows eram no espaço Costañera Sur, atrás de Puerto Madero - famoso bairro revigorado da cidade. Fomos de taxi até determinado ponto e, dali em diante, teríamos que caminhar. E olha, uma senhora caminhada. fomos acompanhando os "mudernos" portenhos e logo chegamos a entrada. Que era...bem, era isso aí abaixo.

Entramos e o primeiro susto: o show do PHOENIX, marcado para as 7 da noite, foi transferido para...meia noite! Fico puto mas beleza. O espaço do festival é bem grande e amplo. Há bastante banheiros químicos e 3 palcos. Um guindaste com uma mesa presa a ele é uma das "atrações": o bar suspenso. Pegamos o meio do SENSACIONAL show do YEASAYER. Mesmo com poucas pessoas, os novaiorquinos colocaram todos pra dançar!

Pausa e resolvemos beber umas. Há um espaço fechado, tipo "cercadinho", onde os maiores de 18 podem consumir cerveja (e eu achava que essa praga era exclusividade nossa). Entramos e ganhamos uma pulseirinha que "dava direito a duas cervejas". Dei o maior gritão: "uuhhú, cerva grátis"!!!! Entro, peço minhas duas cervas, o cara corta minha pulseirinha para comprovar que pedi as 2 que tinha direito e...me cobra 40 pesos!!!!! E eu lá, com cara de "ãh"? E aí ele me explica: CADA ADULTO TINHA DIREITO A COMPRAR E BEBER APENAS 2 CERVEJAS DURANTE TODO O SHOW! Deixa eu repetir, duas cervejas a noite toda!!! E eu e Fabiana começamos a rir daquilo. Daí em diante passamos meia hora para beber cada copo de Quilmes. E a fila do bagulho depois que entrarmos ficou GIGANTE!

Enquanto degustávamos nossas Quilmes como se fossem whisky, os argentinos do ARBOL mantinham a boa galera atenta com seu pop indie divertido e inofensivo. A "fauna" do evento já valia uma resenha: indies mudernos, headbangers com camisas do Venon, turistas desavisados e famílias com crianças - de 8, 10 e até bebês em carrinhos! Foféssimo! Em seguida, o GIRL TALK iniciou sua festa para jovens no palco 2 em uma apresentação cheia de efeitos, chuva de papel higiênico e musica que é bom, quase nada. Os mash ups da banda podem fazer sucesso em uma pista de dança, mas ali só nos levaram a beber mais rápido as 4 Quilmes a que tínhamos direito.

Depois de bebidas nossas 4 cervejas, fomos em direção ao palco principal onde MIKA começaria sua apresentação. E o cara é bem popular em Buenos, pois foi o show mais cheio e mais gritado pelo público. Com "take it easy" ele deu inicio a um belo show, redondinho, com ótimas musicas e com uma bela produção. Em "Big Girl (You Are Beautiful)" a casa veio abaixo, todos cantando e muita gente chorando - sério. A banda do cara é foda, a backing vocal é um show a parte e a batera então, nem se fala! O show segue quente com "rain" e encerra com "we're golden" com direito a chuva de papel picado dourado e personagens caracterizados no palco. O cara é um puta frontman e o show foi muito, muito irado. Saldo positivissimo pro Mika.


Uma volta pelos diversos stands e vamos para o palco 2 ver o HOT CHIP. O palco deles é menor e o inicio com "And I Was A Boy From School" não empolga. Talvez porque eu nunca tenha sido muito fã do som deles, sinto que a parada está fria. Em "over and over", a quarta musica, a coisa esquenta um pouco, mas os portenhos parecem também não muito empolgados. Saio no meio de "I feel better" pra beber um refri e descubro depois que foi a penúltima musica do show. Chato.

em seguida, no palco principal, Scissor Sisters. Cara, estava curioso com o show deles porque, em disco, parece divertido, apesar de não ser muito minha praia - uma disco requentada com toques de guitarras pesadas. Mas o resultado é catastrófico. Todos os clichês do rock em um só show, dois vocalistas equivocados e muito, mas muuuito over e musicas que, ao vivo, não funcionam. Cara, me deu muuita vergonha alheia dos vocalistas, em especial do tal Jake Shears, com caras e bocas e um macacão de vinil colado que parecia a roupa do homem aranha. Na boa, diva gay é o Mika, que tem talento e presença. O Scissor Sisters é só uma banda clichê ruim. E ponto.

Nem vemos o final e já nos direcionamos ao palco 2 onde uma multidão de indies já se aglomera ansiosa. E a meia noite e quinze, o PHOENIX sobe ao palco para o show mais esperado da noite - por mim, claro! E com "Liztomania" a pista do festival vira um liquidificador, com todos dançando e pulando. Os argentinos ainda fazem aqueles "ôôôôs" tipo torcida de futebol para acompanhar as partes instrumentais da musica, o que fica ainda mais divertido. "Long distance call" e "Fences" em seguida deixam a coisa ainda quente. Em "girlfriend" a multidão dá uma acalmada, mas segue cantando junto. Estou próximo do palco e neguinho não para de tentar chegar mais perto - argentino não conhece muito bem física, sabe, tipo "2 corpos não podem ocupar o mesmo espaço". O final do (curto) show é matador com "Rally" (abri uma roda em minha volta nessa) e uma versão longa de "1901". Galera em êxtase e a banda se retira com saldo mais que positivo, mesmo devendo um bis pro povo.

Saída, cerca de 20.000 pessoas caminhando em procissão por cerca de 2 kilometros até conseguir chegar aos pontos de ônibus. Eu ainda passei uma romaria para conseguir um taxi que me levasse para beber uma CERVEJA perto do hotel, para fechar bem uma bela noite!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine (Teatro Odisseia - 09/11/2010)



Não custa nada lembrar: isso não é uma resenha, mas um texto passional, sem comprometimento com narrativas lineares e feito por um apaixonado por musica e rock, ok?

Final dos anos 80 e um brother meu chega no colégio com um disco de vinil branco. A gente estava escutando muito RAMONES e bandas inglesas como Cure, Smiths e Joy Division. Mas ele me saca a porra do vinil branco de uma banda com um nome engraçado: "Dead Kennedys". Gravei uma fita e ele escreveu (à mão) as letras pra mim. Ali, exatamente ali, minha vida começava a ser definitivamente estragada. As letras de Jello Biafra e as guitarras de East Bay Ray mudaram minha vida e me marcaram a ferro e fogo pra sempre.

Em 1992 tive a primeira oportunidade de encontrar o mentor intelectual da minha desgraça, em uma breve aparição dentro do um show do RDP no circo voador. E já havia sido histórico, inesquecível. Mas o que aconteceu ontem no Rio de Janeiro superou todos os limites.

A fila gigantesca na porta do Odisséia (dobrando a esquina) já dava idéia de que mais gente além de mim teve a vida igualmente estragada pelo DK. Muitos amigos das antigas, agora senhores respeitáveis, aguardavam ansiosamente pelo encontro com Jello Biafra. Um amigo meu comenta: "O (cemitério do) Caju deve estar vazio hoje, os mortos sairam todos das tumbas"!

Graças a maratona da entrada, perdi as bandas de abertura: Priest of Death e os (excelentes) Estudantes. A casa está completamente abarrotada e é difícil andar pelo teatro. Consigo um canto à direita do palco e ali fico.

E as 23:00 com as luzes apagadas, um a um os membros da escola de medicina de Guantanamo vão entrando. E em seguida, com um jaleco branco com uma camisa dos USA manchada de sangue (artificial, ok?) por baixo, "O" cara entra no palco. E com "the terror of tinytown" dá início à uma noite de caos, desordem, punk rock e destruição. Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine estavam ali diante de um teatro lotado e com o jogo ganho.

O pogo é s-e-l-v-a-g-e-m e os stage dives se sucedem. Mas é na quarta música que o que estava apenas agitado, tenso, se torna de fato CAOS - aquele caos que só o punk rock pode proporcionar. "California Uber Alles", um dos maiores clássicos da história do DK põe o Odisséia
abaixo e a pista parece rio de piranha! Dou meu primeiro Stage Dive e logo que me recupero alguem cai em cima de mim: era o próprio Jello Biafra, que do alto de seus 52 anos esbajava energia como muita banda de garoto não consegue, pulando sobre o público enquanto canta a musica.

O show segue quente, o som alto e a banda competente segura as pontas! Musicas como "New Feudalism", "Panicland" e "Three Strikes" são cantadas pelo público e mostram que Jello mantêm a lingua afiada. Entre os sons, os velhos discursos de Jello: sobre como as multinacionais do petróleo financiam o contrabando de armas, sobre o controle dos USA sobre a plantação de coca e marijuana na America Latina, sobre machismo. E o clima em um crescente de agitação, desordem e caos. Esqueça os showzinhos de punk rock comprtados de hoje em dia, aquilo era hardcore como deve ser: insano, fora de controle! Jello agora está com uma camisa com fotos de jatos de guerra e a frase: "Democracy: we deliver". Todos suam em bicas e a pista parece uma piscina. E tome "Let's linch the Landlord" nas idéias, e tome stage dives.


A épica "Holiday in Cambodia" encerra o show com um pogo animalesco que se estendeu quase ate a porta do Odisséia. Perfeito! A banda sai, faz aquele cú doce de sempre e em menos de um minuto volta para tocar "Too drunk to fuck" do DK e colocar ainda mais carne e sangue no rio de
piranhas. Outro final, mais uma saída de palco, mais um pouquinho de cú doce e voltam ao palco. E assim foram mais dois bis, começando com uma musica nova e fechando o show de maneira (atenção para o milésimo clichê deste texto) "apoteótica" com a clássica "Bleed for me" do Dead Kennedys e com a nova " I Won’t Give Up". E ninguem pediu mais nenhum bis porque mais de metade do público estava a procura de um desfibrilador ou de uma máscara de oxigênio: extenuados, mortos, cheios de hematomas e com um inconfundível sorriso no rosto.

Jello andou dando declararações equivocadas nos ultimos anos, passou por um processo complicado com os ex-membros do DK, gravou discos insignificantes. Mas com o Guantanamo School of Medicine ele prova que ainda tem muita lenha para queimar. E que o posto de maior frontman do punk rock atual segue sendo dele.

Quem viu viu, quem não viu, torça porque este show merecia virar DVD.

PS: MEGA parabéns ao pessoal da A Grande Roubada pela iniciativa, correria e disposição de acreditar em um show destes em plena Terça Feira. Valeu!