Noite fria na Rua Augusta. Muita gente nos bares. Andamos da Av. Paulista um bom pedaço até chegar em frente a uma aglomeração na altura do numero 600. Era a porta do Comitê club, casa meio "nova" do circuito paulistano e que naquela noite receberia em seu palco ninguém mais ninguém menos que o Dinosaur Jr.
Maluco, DINOSAUR JR, sacou? Tu gosta de Nirvana? Curte Smashing Pumpkins? Curte rock independente em geral? Pois é isso, o rock independente – conhecido como “indie rock” – deve às calças e cuecas à banda liderada por J. Mascis. Desde os anos 80 eles, o Sonic Youth e os Pixies formam a santíssima trindade do rock independente mundial, dando as cartas, influenciando zilhões de bandas e consolidando um estilo de guitarras distorcidas, vocais limpos e melodias marcantes. Por isso a simples presença do Dinosaur Jr em terras brasilis suscitou tanto alarde, tanta movimentação na cena independente.
O bar ao lado do Comitê Club parecia boteco do Rio, tantas eram as caras cariocas conhecidas circulando por ali. Todos ansiosos pela parede de guitarras de J. Mascis que veio muito bem acompanhado por Low Barlow (o frontman de outra banda seminal do indie americano dos 90’s, o SEBADOH) no baixo.
Show marcado para as 23:00 e, quando entramos, o primeiro susto: a casa é pequena. Lembra o antigo Ballroom, aqui no Rio, mas com um tamanho de Teatro Odisséia. E já está abarrotada de gente. Tomamos umas cervas e nos posicionamos à esquerda do palco, estrategicamente em frente à parede de amplificadores Marshall que seriam a máquina de moer tímpanos de Mascis naquela noite – 6 amplis perfilados e mais dois de retorno! O palco baixo aumenta a ansiedade pela proximidade com a banda. A discotecagem só com clássicos do indie dos 90's vai pondo mais lenha na fogueira. E tome Sugar, Eugenius, Le Tigre e Teenage Fanclub nos alto falantes!
E perto da meia noite, luzes apagadas, o Dinosaur Jr entra no palco. E daqui pra frente eu não posso mais “resenhar” nada, porque a pista do Comitê se tornou um liquidificador e eu não anotei porra nenhuma, só me acabei junto ao mar de viciados ensandecidos pela parede de guitarras distorcidas que Mascis despejava sobre nós. Sei que rolaram, entre outras, “In the Jar”, “The wagon”, “Feel the pain” e “Over it” em sequência, além de surpresas como “Repulsion” e "Raisans". A presença de palco de Low Barlow é absolutamente sufocante, o maluco agita pracas – apesar de umas paradas chatas para afinar o baixo e ajustar os volumes.
Mascis é fantástico: toca e canta com uma simplicidade e precisão que me envergonha de ser - ou tentar ser - guitarrista. Seus solos distorcidos são absolutamente claros e precisos, seu set de pedais é impressionantemente variado e o cara abusa dos wha-whas e fuzz. Fico completamente hipnotizado em “Pieces” com seus solos em meio às projeções de luzes ao fundo do palco. Mascis não dirige uma palavra ao público durante o show. Apenas um ou outro "thanks" após uma ou outra música. E nem precisava.
Após uma hora e meia de detonação o bis chega, com a famosa cover de “Just like heaven” do Cure. Final de show, um mar de gente suada e feliz e nós saímos voando pra rodoviária, com um zumbido no ouvido que ficou até agora. Inesquecível!
Set list:
- The Lung
- Repulsion
- In a Jar
- Imagination Blind
- Get Me
- Pieces
- Out There
- Feel the Pain
- Over It
- Raisans
- Back to Your Heart
- The Wagon
- Freak Scene
- Gargoyle
- Just Like Heaven