quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Bombay Bicycle Club e os "indies" cariocas (Teatro Odisseia - 25/09)


Ontem uma das bandas mais comentadas da atual cena inglesa deu as caras nesta terra esquecida pelos Deuses do rock. O Bombay Biclycle Club veio tocar no Rio para uma platéia cheia, porém sem muito interesse em vê-los.

A banda tem tocado nos principais festivais ingleses apresentando seu album "I Had the Blues But I Shook Them Loose". Ha um mês, quando estive em Londres, tentei comprar ingresso para um dos 3 shows que fariam na cidade e estavam sold out ha 3 semanas! Além disso, o rock dançante e psicodelico dos caras é um convite bastante atraente para sair de casa em plena Quarta Feira com futebol estourando na TV.

Chego na porta do Odisséia e a boa fila dá a impressão positiva que o público carioca respondeu bem a combinação "banda gringa boa + ingresso barato" (mais que honestos 20 reais). Lá dentro, casa cheia mas não lotada e as 22:30 o Bombay entra no palco ao som de "Magnet". O som está bem equalizado e estamos bem perto do palco. Mas aí começa o problema. Muita, mas MUUITA gente ali presente não estava nem aí para o que acontecia no palco. Todos estavam interessados em conversar com os amigos, ALTO, zanzar pra lá e pra cá em uma interminável sessão de empurrões e trombadas mal educadas, musica após música. A banda mandando ver um crescente com "The hill" e "dust on the ground" e neguinho papeando ao lado, na frente, atrás. Tentamos mudar de lugar, mas a coisa seguia. Os "cariocax dexcoladux do Leblon" queriam ver e ser vistos, e não ouvir uma ótima banda. Me deu saudade do Lumiere, de Londres, onde este aviso abaixo dá as cartas da casa:



O Bombay segue firme, com destaque para o vocalista Jack Steadman que parece possuído e é o membro da banda que toca com mais energia. O grupo é bem jovem e parece bastante a vontade no pequeno palco do Oddisséia. Eles tocam 11 musicas e encerram o show. E minha paciência já havia se esgotado também. A caminho do caixa vejo que eles voltam para tocar o hit "Always like this" no bis , com a percussão do Empolga as 9 e isso enterra definitivamente meu bom humor.

Saindo do Odisseia, conversando com amigos e minha mulher, ficamos pensado se, de fato, o Rio tem condições de abrigar bons shows de bandas indie de porte médio. Porque ao que parece, o público existe em pequeno numero, e quando os shows enchem, a musica parece ser a última coisa que interessa à parte das pessoas que vai: o "evento", o "ver-e-ser-visto", o "estilo" parecem contar mais. Sad but true. E a própria placa do clube em Londres mostra que, talvez, seja um problema universal. Mas que vamos ver o Phoenix em BH, please, vamos.

domingo, 22 de agosto de 2010

B. Negão e os Seletores de Frequencia - Sábado, 21 de Setembro. Oi Futuro (Rio de Janeiro)


Bernardão Erótico, vulgo B. Negão é um patrimônio da cena undergrond carioca. Desde sua primeira banda, o mítico FUNK FUCKERS, passando pelo Planet Hemp até chegar à carreira solo, seu rap com fortes influências de dub e funk, sua voz grave e versos acelerados agregaram uma legião de malucos que o seguem ha anos.

Eu sou um deles e, junto a vários outros, pude vê-lo mais uma vez em ação, ontem. Mas desta vez em um palco que têm parecido ser uma excelente opção para shows médios no Rio, o teatro do Oi Futuro em Ipanema. Conforto, ingressos pra lá de acessíveis (honestos 15 Reais) e um som simplesmente perfeito. Tudo pronto pro grande baile promovido por Bernardo.

A banda é composta por uma série de figurinhas carimbadas da cena under dos 90's. No baixo Kalunga (do Cabeça); no trompete e backings, Pedro Selector, que tocou em "n" bandas, entre elas a Pelvis; na guitarra Fabiano, do Manisfesto 021; nos vocais Paulão, a lenda da primeira formação do Gangrena Gasosa; e Robson na batera, além de mais um trombonista para este show.
O show começou quente com a banda entrando aos poucos e com "A palavra" dando o pontapé inicial no desfile de hits como "Prioridades", Vai e volta" entre outros. B. Negão está a vontade, conversa com a galera e comanda o baile com aquela presença sempre "gente fina" de palco.
A disposição de teatro do lugar é que acabou dando uma esfriada, com todo mundo sentado ao som dos dubs e funckys da banda. MAs no meio do show B convida a galera da lateral a "chegar mais perto" e aí a coisa esquentou. Em especial com a sequência "Funk até o caroço" e "Dança do Patinho".

O final foi apoteótico de fato, com a cover de "It's Automatic" classico dos bailes Funk cariocas, da banda Freestyle. E finalizando, no bis vieram mais dois covers: A incrível "Ghost Town" da banda de Ska Specials e "there it is" de James Brown. Pura Festa. E B.Negão segue sendo um dos caras mas criativos e autênticos da cena carioca. Ainda bem para nós!

domingo, 15 de agosto de 2010

Passei a semana escutando...TORA BORA ALL STARS


A musica as vezes se apresenta para nós através do inesperado. Em um destes casos, durante uma viagem de férias, em Paris, me deparei com uma banda de ska tocando no meio de um parque, à luz do dia, na beira do Sena. Na hora parei para ouvir e a combinação de ska, reggae e Dub dos 8 caras que tocavam em meio as pessoas me chamou a atenção. O combo se chamava Tora Bora All Stars e conversando com um deles durante o intervalo da "apresentação" descobri que eles são da Alemanha e estavam de férias fazendo shows ao ar livre pela França.


O grupo formado em 2005 em Göttingen, no meio da Alemanha, conta com uma cozinha pulsante e dois vocalistas com muita presença de palco, que se revezam dando mais "gás" às musicas ao vivo. O naipe de metais formado por 2 caras tambem apóia nos backing vocals e as musicas, algumas em inglês e outras (a maioria) em alemão são leves e fogem do bate estaca do "ska-core", bebendo mais do dub e do ska tradicional.

Aqui você pode ver um pedaço da apresentação deles no parque em Paris e abaixo você pode ouvir o pulsante, dançante e irresistivel som destes rude-boys germânicos!



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

1-2-3-4 Shoreditch Festival (Londres). 24 de Julho




Sempre li e escutei sobre os festivais de verão ingleses. E não pude deixar passar a chance de ir a um, quando estive em London. O 1-2-3-4 festival, da Converse, é um festival anual que é conhecido por lançar novas bandas e colocar como headliners bandas que estão começando a "bombar" no cenário indie. Este ano, surpreendentemente, um dos headliners era um veterano da cena inglesa: Peter Hook, baixista do Joy Division e New Order, que iria fazer um show tocando todo o "Unknow Pleasures", primeiro e lendário disco do Joy.

O festival rolou em um parque pequeno, o Shoreditch, em um suburbio de Londres. Como era meu ultimo dia na cidade, acabei chegando por volta das 6 horas no festival, que havia começado as 13:00. E entrei em pânico quando, ao chegar na entrada, escutei de longe os acordes de "Candidate", do Joy division. Na hora pensei: "fudeu, perdi o show do Peter!" Correndo feito um louco chego e me dou conta que sim, já era Mr Hook no palco, mais cedo que eu imaginava. Entretanto, a musica seguinte "Insight", me fez ficar um pouco mais aliviado: ele estava tocando o "Unknow pleasures" na mesma ordem do disco.


A banda era composta por 4 caras (batera, teclado, guitarra e outro baixista que tocou a maior parte do tempo). Peter cantava e tocava apenas algumas partes de algumas musicas no baixo - notadamente aquelas em que seu baixo "sola". Em "insight" e "New dawn fades" quem canta é nada mais nada menos que Rowetta, ex-Happy Mondays. O público oscilava entre "mudernos" que ignoravam solenemente Mr. Hook e viciados em Joy que cantavam as musicas de olhos fechados.


A canção seguinte, "She's lost control" quase me leva às lágrimas. Mas também foi a música que mostrou de vez as deficiências de Peter Hook como frontman: ele claramente não conseguiu segurar a voz durante a musica inteira. Apesar da performace competente da banda, a voz oscilante e sem potência de Hook comprometeu daqui em diante. Mas "Shadowplay" colocou a galera pra pular e esquecer destes detalhes. Se é um esquema caça níqueis ou se Peter Hook decidiu ganhar uns trocados com seu passado brilhante, confesso que naquela hora nada importava: ouvir as musicas de um dos discos mais importantes da miha vida ao vivo era pra lá de emocionante. O show segue e em "interzone" rola outro momento "vergonha alheia" quando Peter esquece um pedaço da letra. Mas ok, segue o rock e "remember nothing" parecia encerrar o show. Peter Hook anuncia entretanto que teria mais "4 fucking minutes" e dedica a última musica do show à um amigo, que estava no backstage, pelo "casamento incrível que mantinha ha mais de 20 anos". E aí os primeiros acordes de "love will tear us apart" colocaram o parque Shoreditch abaixo! E que se foda a performace abaixo da crítica de Hook, as intenções desta tour, a porra toda! O que importava era cantar de olhos fechados e a plenos pulmões "When routine bites hard, And ambitions are low/ And resentment rides high, But emotions won't grow". Você pode ver um pedaço da musica aqui.

Final de show e resolvemos dar um rápido passeio pelo festival. Haviam 3 tendas e o main stage. Barracas de comida e poucas de bebidas, além de um stand da Converse e outros de street art. Com o programa do festival na mão descubro que havia perdido o show das incríveis Dum Dum Girls. Mas dali a poucos minutos, uma das bandas que mais tenho escutado no ultimo ano se apresentaria na tenda 2. E corremos pra lá.

WE HAVE BAND

Um espaço apertado e com "How to make Friends" o WE HAVE BAND começava a performace mais arrebatadora que eu veria naquela noite. O trio formado por um baixista, uma vocalista que também comanda um sintetizador e um outro percusionista/ vocalista começou o show com alguns problemas na altura da voz, mas já na segunda musica, "Hear It In The Cans", a tenda já havia se transformado em uma grande pista de dança.


Entretanto, durou pouco: apenas 8 musicas e eles terminam o show. Mas sons como "OH!", "you came out" e "Divisive" fizeram a tenda ir enchendo, as pessoas irem dançando e o clima esquentar. A vocalista Dede é uma figura à parte, com suas danças desengonçadas e jeito freak. Showzaço!!

Nem deu tempo direito de beber uma cerveja (quente) e as VIVIAN GIRLS já atacavam seu garage punk cru e sujo na mesma tenda. E para minha surpresa, estava beem mais cheia, comprovando a popularidade das meninas do Brooklin por Londres. Ao vivo elas soam ainda mais pesadas e sujas que nas gravações. A guitarrista e vocalista Cassie Ramone quase não fala com o público, mas a baixista Katy agradece a todos o apoio e, ao final, na musica "all the time" dá um stage dive e segue tocando seu baixo em meio ao crowd enfurecido. Termina o show e fico um pouco mais fã das Vivian Girls.

VIVIAN GIRLS

Corro para a tenda 3, ignorando o show do WAVVES que rolava no main stage. Isso porque uma das bandas indie low-fi mais bacanas atuais começaria seu show na menor tenda em minutos. O VERONICA FALLS começa o show e não há espaço para uma mosca na minúscula tenda. O quarteto londrino é animado e o som está beeem alto, mas muito bem equalizado. Assim, as vozes ficam nítidas e as guitarras claras e pesadas. Reconheço no meio do show a linda "Beachy head" que é cantada por muitos dos presentes. O show do Veronica Falls foi um sopro de energia em um escriba que já começava a emitir sinais de cansaço pelo dia longo e pelos shows sucessivos. Excelente performance, especialmente da dupla de guitarristas/ vocalistas (um cara e uma menina) que faz com que eles saiam ovacionados do palco.

VERONICA FALLS

Saio da tenda e em poucos minutos, no main stage, os canadenses do FUCKED UP começam seu show, aos gritos de "no bulshit tonight" do vocalista Damian Abraham. O cara é um tremendo frontman, e sem camisa, desce do main stage na primeira musica e passa TODO o show no meio da galera cantando e agitando o pogo. É impressionante o peso do som do Fucked Up ao vivo, uma das melhores performaces de punk hardcore que vi recentemente. As 3 guitarras no palco deixam o som ainda mais coeso. A banda tem muuitos fãs pelo festival e todos cantam em uníssono os sons da banda. Reconheço entre as musicas do show algumas como "Black albino bones" e "son the father".

FUCKED UP

Uma roda de pogo se forma desde o inicio, comandada pelos gritos de Damian. E as 21:45 o Fucked Up encerra sua brutal apresentação me deixando de cara. Vai se fuder! Punk com uma personalidade do caralho!

Caminhamos até o metrô com uma horda de gente, todos com caras cansadas e pedaços de grama nas costas. Todos felizes e eu, com uma lata de cerveja na mão e um sorrisão no rosto.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Allo Darlin + The Smittens + Antarctica Takes It (Luminaire - Londres). Julho de 2010


Há algum tempo descobri e me apaixonei pelo som do Allo Darlin. Por isso quando, em viagem por Londres, descobri que eles fariam um show na cidade, corri para aproveitar a chance.
O Luminaire fica em um bairro um pouco afastado do centro de Londres - Kilburn. Por isso, entre baldeações de metrô e trem, cheguei no fim do show do Antarctica Takes it. Sim, porque estava marcado para começar as 20:00 e nesta exata hora o quinteto indie folk estava no palco. Gostei bastante das duas musicas que ouvi, um som leve e pop, com uma vocalista um pouco crua mas com instrumental excelente.

Antarctica Takes It

Aproveitei o intervalo para pegar um pint de Guinnes (por inacreditaveis 3 Libras) e dar uma volta pela casa. O Luminaire é uma casa de pequeno porte mas com uma excelente estrutura. Para quem é do Rio, lembra o segundo andar do Cinematheque, mas um pouco maior. O palco é baixo com caixas potentes e uma TV LCD gigante transmite o show entre o salão e o corredor de acesso aos banheiros. O bar é grande e, como aqui, havia as banquinhas de venda de merch das bandas. Além disso, a casa fica a uma quadra da estação de trem, o que facilita pra burro o acesso.
Bem, voltando pra musica: os Smittens sobem ao palco e eu me aproximo para ver o show do quinteto londrino. A troca de palco foi rápida por um dado que me chamou a atenção - e muito: todas as bandas usaram os mesmos instrumentos. Ou seja, era só subir e afinar de novo. Não sei se é uma prática comum por aqui mas que agilizou - e muito - o andamento das coisas, agilizou.

The Smittens

O som dos Smittens segue a linha do Allo Darlin, ou seja, aquilo que por aqui convencionamos chamar, ha alguns anos, de powerpop - ou indie-pop. Vocal feminino (que também toca violão), muitos jogos de vozes entre a vocalista e o tecladista (o destaque da banda, com seu vozeirão de barítono) e um show pra lá de animado! Você pode ver um pedaço da deliciosa "Summer Sunshine" aqui. A casa avisa que faltam 5 minutos e a banda anuncia a ultima musica (sem chiar, sem pedir "só mais umazinha" ou ataques de estrelismo). Nesta ultima musica, os musicos trocam de posição: a baterista (uma menina magrinha e pequenininha, mas que toca pra burro!) vai para o vocal, a vocalista pra batera e o baixista assume os teclados. Divertido.


Mais uma volta e ficamos lendo os divertidos anuncios que a TV LCD transmite: das próximas atrações da casa ao horário dos ultimos trens, passando por avisos como "não somos um pub: se você quer conversar ao inves de ver as bandas, você está no lugar errado".


Mais uma Guiness e pontualmente as 22:00 o ALLO DARLIN sobe ao palco. E começam matando com a tríade "if loneliness was art", "woddy allen" e "Polaroid song" (cantei alto, confesso). O som da banda ao vivo é bem mais pesado que nas gravações. A presença de palco da vocalista Elizabeth Morris é excelente e ela segura o público com comentários divertidos entre as musicas - por exemplo, agradecendo à mãe do baixista Bill por ter financiado a compra de equipamentos da banda. O público está bem mais empolgado com o ALLO DARLIN e canta junto o refrão de "kiss your lips".


O show encerra as 22:45 com "Dreaming", contando com a participação do tecladista do Smittens, Bobby, dividindo os vocais com Elizabeth. A banda se despede e desce do palco para beber entre os presentes. E nós saímos em direção ao ultimo trem da noite, com a ultima Guiness na mão e com o refrão de "Dreaming" ainda na cabeça. Showzaço!