Sempre li e escutei sobre os festivais de verão ingleses. E não pude deixar passar a chance de ir a um, quando estive em London. O 1-2-3-4 festival, da Converse, é um festival anual que é conhecido por lançar novas bandas e colocar como headliners bandas que estão começando a "bombar" no cenário indie. Este ano, surpreendentemente, um dos headliners era um veterano da cena inglesa: Peter Hook, baixista do Joy Division e New Order, que iria fazer um show tocando todo o "Unknow Pleasures", primeiro e lendário disco do Joy.
O festival rolou em um parque pequeno, o Shoreditch, em um suburbio de Londres. Como era meu ultimo dia na cidade, acabei chegando por volta das 6 horas no festival, que havia começado as 13:00. E entrei em pânico quando, ao chegar na entrada, escutei de longe os acordes de "Candidate", do Joy division. Na hora pensei: "fudeu, perdi o show do Peter!" Correndo feito um louco chego e me dou conta que sim, já era Mr Hook no palco, mais cedo que eu imaginava. Entretanto, a musica seguinte "Insight", me fez ficar um pouco mais aliviado: ele estava tocando o "Unknow pleasures" na mesma ordem do disco.
A banda era composta por 4 caras (batera, teclado, guitarra e outro baixista que tocou a maior parte do tempo). Peter cantava e tocava apenas algumas partes de algumas musicas no baixo - notadamente aquelas em que seu baixo "sola". Em "insight" e "New dawn fades" quem canta é nada mais nada menos que Rowetta, ex-Happy Mondays. O público oscilava entre "mudernos" que ignoravam solenemente Mr. Hook e viciados em Joy que cantavam as musicas de olhos fechados.
A canção seguinte, "She's lost control" quase me leva às lágrimas. Mas também foi a música que mostrou de vez as deficiências de Peter Hook como frontman: ele claramente não conseguiu segurar a voz durante a musica inteira. Apesar da performace competente da banda, a voz oscilante e sem potência de Hook comprometeu daqui em diante. Mas "Shadowplay" colocou a galera pra pular e esquecer destes detalhes. Se é um esquema caça níqueis ou se Peter Hook decidiu ganhar uns trocados com seu passado brilhante, confesso que naquela hora nada importava: ouvir as musicas de um dos discos mais importantes da miha vida ao vivo era pra lá de emocionante. O show segue e em "interzone" rola outro momento "vergonha alheia" quando Peter esquece um pedaço da letra. Mas ok, segue o rock e "remember nothing" parecia encerrar o show. Peter Hook anuncia entretanto que teria mais "4 fucking minutes" e dedica a última musica do show à um amigo, que estava no backstage, pelo "casamento incrível que mantinha ha mais de 20 anos". E aí os primeiros acordes de "love will tear us apart" colocaram o parque Shoreditch abaixo! E que se foda a performace abaixo da crítica de Hook, as intenções desta tour, a porra toda! O que importava era cantar de olhos fechados e a plenos pulmões "When routine bites hard, And ambitions are low/ And resentment rides high, But emotions won't grow". Você pode ver um pedaço da musica aqui.
Final de show e resolvemos dar um rápido passeio pelo festival. Haviam 3 tendas e o main stage. Barracas de comida e poucas de bebidas, além de um stand da Converse e outros de street art. Com o programa do festival na mão descubro que havia perdido o show das incríveis Dum Dum Girls. Mas dali a poucos minutos, uma das bandas que mais tenho escutado no ultimo ano se apresentaria na tenda 2. E corremos pra lá.
WE HAVE BAND
Um espaço apertado e com "How to make Friends" o WE HAVE BAND começava a performace mais arrebatadora que eu veria naquela noite. O trio formado por um baixista, uma vocalista que também comanda um sintetizador e um outro percusionista/ vocalista começou o show com alguns problemas na altura da voz, mas já na segunda musica, "Hear It In The Cans", a tenda já havia se transformado em uma grande pista de dança.
Entretanto, durou pouco: apenas 8 musicas e eles terminam o show. Mas sons como "OH!", "you came out" e "Divisive" fizeram a tenda ir enchendo, as pessoas irem dançando e o clima esquentar. A vocalista Dede é uma figura à parte, com suas danças desengonçadas e jeito freak. Showzaço!!
Nem deu tempo direito de beber uma cerveja (quente) e as VIVIAN GIRLS já atacavam seu garage punk cru e sujo na mesma tenda. E para minha surpresa, estava beem mais cheia, comprovando a popularidade das meninas do Brooklin por Londres. Ao vivo elas soam ainda mais pesadas e sujas que nas gravações. A guitarrista e vocalista Cassie Ramone quase não fala com o público, mas a baixista Katy agradece a todos o apoio e, ao final, na musica "all the time" dá um stage dive e segue tocando seu baixo em meio ao crowd enfurecido. Termina o show e fico um pouco mais fã das Vivian Girls.
VIVIAN GIRLS
Corro para a tenda 3, ignorando o show do WAVVES que rolava no main stage. Isso porque uma das bandas indie low-fi mais bacanas atuais começaria seu show na menor tenda em minutos. O VERONICA FALLS começa o show e não há espaço para uma mosca na minúscula tenda. O quarteto londrino é animado e o som está beeem alto, mas muito bem equalizado. Assim, as vozes ficam nítidas e as guitarras claras e pesadas. Reconheço no meio do show a linda "Beachy head" que é cantada por muitos dos presentes. O show do Veronica Falls foi um sopro de energia em um escriba que já começava a emitir sinais de cansaço pelo dia longo e pelos shows sucessivos. Excelente performance, especialmente da dupla de guitarristas/ vocalistas (um cara e uma menina) que faz com que eles saiam ovacionados do palco.
VERONICA FALLS
Saio da tenda e em poucos minutos, no main stage, os canadenses do FUCKED UP começam seu show, aos gritos de "no bulshit tonight" do vocalista Damian Abraham. O cara é um tremendo frontman, e sem camisa, desce do main stage na primeira musica e passa TODO o show no meio da galera cantando e agitando o pogo. É impressionante o peso do som do Fucked Up ao vivo, uma das melhores performaces de punk hardcore que vi recentemente. As 3 guitarras no palco deixam o som ainda mais coeso. A banda tem muuitos fãs pelo festival e todos cantam em uníssono os sons da banda. Reconheço entre as musicas do show algumas como "Black albino bones" e "son the father".
FUCKED UP
Uma roda de pogo se forma desde o inicio, comandada pelos gritos de Damian. E as 21:45 o Fucked Up encerra sua brutal apresentação me deixando de cara. Vai se fuder! Punk com uma personalidade do caralho!
Caminhamos até o metrô com uma horda de gente, todos com caras cansadas e pedaços de grama nas costas. Todos felizes e eu, com uma lata de cerveja na mão e um sorrisão no rosto.
Medo desse projeto do Peter Hook, hein?
ResponderExcluirMas eu confesso que ficaria curioso pra ver...