segunda-feira, 30 de julho de 2012

passei a semana ouvindo... ETERNAL SUMMERS



Este blog sai da hibernação penas por motivos muito fortes. E esta banda é um motivo bastante forte (GRACIAS Alexander Sal!!). Há cerca de um mês estou tendo um forte, consistente e arrebatador caso de amor com este trio americano que atende pelo nome de Eternal Summers. Nossos encontros tem sido diários e cada vez mais apaixonados, em meu MP3 player. 

Nicole, Daniel e Jhonny, respectivamente guitarra e voz, bateria e baixo, fazem um indie rock com nuances de new wave e pós punk. Nada demais. Nada novo. Mas com uma sinceridade, qualidade e criatividade que são de arrebatar! 

Seu segundo album (o primeiro, chamado "Silver", é de 2010), chamado "Correct Behavior", é uma pérola do rock deste século. Um conjunto de canções ensolaradas, com vocais suaves, guitarras distorcidas e refrões pegajosos. Rock. Daqueles discos que quando acabam você imediatamente coloca no repeat. Algumas vezes.  

O clip de "Wonder" teve uma repercussão boa e é uma excelente forma de você entrar em contato com o trio. Assista, delicie-se e perceba que, olhando em volta com calma, ainda tem MUITA, mas muita coisa boa sendo feita por jovens empunhando guitarras ao redor do mundo. No rock, o verão é eterno!



sábado, 10 de março de 2012

Come, Armageddon! Come! Morrissey na Fundição Progresso (ou "carta para um velho amigo")

Foto: Portal Terra
É Moz, faz bastante tempo né? Desde aquele ano de 86, em que você cantava “Big mouth strikes again” direto no dial da Fluminense FM e eu ficava te ouvindo, no radio, depois da escola. O tempo passou, nós dois envelhecemos, mas fico feliz que no decorrer de tantos anos ainda tenhamos uma relação tão próxima, tão bacana.
Por isso fiquei feliz em podermos no ver ontem. Tá, eu te vi, mas você sabia que eu tava ali né? Porra, começar seu show com “First of the gang to die”, minha preferida do “you are the Quarry” foi, tipo, papo reto né? Você deve ter visto um coroa que pulava feito pipoca lá no meio. Era eu. E você bem lembra do quanto eu cantei com você o refrão de “You Have Killed me”, segunda musica do teu show, durante anos e anos quando batiam aquelas fossas e dores de cotovelo juvenis: "As I live and breathe, You have killed me". A juventude sempre é sofrida né cara? E fiquei pensando no quanto, durante a “famosa” crise dos 30, cantei baixinho, pra mim mesmo, a frase da musica seguinte, Alma Matters: “So the life have made may seem wrong to you”. É rapaz, a gente sempre teve uma sintonia fudida né. Como se você escrevesse depois de um papo nosso em uma mesa de bar.
Porra Moz, e que banda essa que você arrumou agora hein brother? O Boz Borrer vestido de mulher, arrebentando em sua Fender Telecaster, que foda! E o tecladista/ trompetista? Enfim, você sempre bem acompanhado né? Só achei caído ter que ficar vendo os caras de sunga o show todo...me poupe da próxima, meu amigo!
Assim como você NÃO PRECISAVA ter feito aquilo né cara...tocar “Everyday is like Sunday”, a musica que você compôs para me fazer companhia naqueles tardios e melancólicos anos 90, em que a vida parecia tão indefinida...golpe baixo brother. Ainda bem que “you’re the one for me fatty” veio na na seqüência, pra disfarçar as lagrimas e me lembrar de uma namoradinha da faculdade. Ops, próxima musica, please.
Brother, eu gosto de carne. Eu como o bichinho (no bom sentido, de fora pra dentro). Passar aquele vídeo de animais sendo mortos nos abatedouros enquanto você cantava “meat is murder”, em uma versão bem mais lenta e diferente da original, me deixou bolado cara. E mais ainda meus amigos, me vendo cantar a letra toda e pensando: “Como o Bolinho é faaalso”.
Assim como fiquei bolado com você “entregar” assim de bandeja pra todo mundo “Let me Kiss you”, a musica que você compôs pra um cara tímido que tirava marra de punk pra não mostrar o quanto era frágil. Porra Moz, era minha musica cara, que explanação!! E neguinho em volta olhando estranho enquanto eu b-e-r-r-a-v-a “But then you open your eyes, And you see someone that you physically despise. But my heart is open for you”.
E aí você veio com aquela…cara, nem sei o que te falar. Só nos dois sabemos o quanto “there’s a light that never goes out” foi companhia para minha vida. É cara, eu te falei, tocou no meu casamento e tudo. E aí foi dureza e você imagina né irmão...dois litros e meio de lagrimas e um filme da vida passando na memória enquanto cantava aquele refrão desgraçado de bonito que você escreveu láá pelos idos de 87. E agradeci por você emendar com “I'm Throwing My Arms Around Paris”, que eu ficava cantarolando com Fabiana durante os dias em que caminhamos pela cidade luz, e que me ajudou a disfarçar os olhos vermelhos que chamavam a atenção do pessoal em volta.
Caralho Moz, e a dobradinha final que você arrumou hein? “Please, Please, Please Let Me Get What I Want”, como todo mundo cantando alto que “pelo menos uma vez na minha vida me deixe ter o que eu quero”, emendada com “How soon is now?” foi matadora hein brother? Aquela gente toda pulando e dançando como se o mundo fosse acabar ali e eu cantando e observando o quanto essa musica ainda é potente cara. Porque no final é isso, tudo se resume a isso né brother? “I am human and I need to be loved just like everybody else does”. É, pode ser. DEVE ser.
E valeu por ter voltado pra tocar um bis Moz. Foi legal da sua parte. Até porque “One Day Goodbye Will Be Farewell” é a melhor musica do seu ultimo disco e deixa claro que tu ainda é um puta compositor, seu inglês desgraçado! E continua com a ironia afiada né? “But one day goodbye will be farewell, and you will never see the one you love again”.
Bem brother, eu espero que até lá eu ainda possa te ver de novo. E valeu pela companhia e força todos estes anos.
Steven Patrick Morrissey, Fundição Progresso, 09 de Março de 2012. Show da minha vida. Ponto.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Tente mudar o amanhã


Certa vez disse, aqui, que musica, pra mim, sempre foi companhia. Algo que está comigo nos bons e maus momentos, algo que me faz relaxar, refletir, extravasar. Algo que está comigo, sempre. E poucas companhias foram tão presentes na minha vida quanto as canções de um trio paulistano chamado Cólera.

Corriam os tardios anos 80 e eu e meu brother Fred éramos (e somos) viciados em Plebe Rude. E um certo dia, em um show no finado Canecão, 2 dos 4 integrantes da banda entram no palco, para o lançamento do album "Nunca fomos tão brasileiros" com camisas da mesma banda: Cólera.

Logo o Fred conseguiu um vinil daquela banda e levou pro colégio. Capa tosca. Som embolado e mal gravado. E letras de pirar qualquer moleque de 14 anos que cresceu em meio a final de Ditadura e início de algo que chamavam de "Nova" República. O disco se chamava "Tente mudar o amanhã". Pronto. A merda tava feita e minha mãe se descabelando.

Éramos tipicos moleques de classe media da zona sul do Rio, cheios de amigos playboys do nosso colegio particular. E naquele momento, em que começávamos a ouvir Ramones e Dead Kennedys, o Cólera falava, em nossa lingua, o que queriamos dizer. E tome de começar a ir de calça rasgada e camisa de banda pintada à mão pro colegio. E tome de começar a entender "que porra é essa de punk". E tome de ouvir "Verde não devaste" e começar a entender o que era meio ambiente, militarismo, etc.

Daquele ano em diante, minha formação intelectual começava a seguir em paralelo com as canções do Cólera. Meus conceitos sobre nacionalismo, autoridade, direitos humanos, meio ambiente, intergeracionalidade, tudo foi sendo forjado e repensado à luz das letras do Redson. Minha entrada pra faculdade de Psicologia em 92 foi indiretamente motivada por letras do Cólera.

Em uma certa noite de 1990 consegui, pela primeira vez, assistir a um show dos caras, no Circo Voador. E até a última vez em que os assisti ao vivo, no mesmo circo voador, mais de 20 anos depois, TODOS os shows do Cólera foram como o primeiro pra mim: camisa suada, garganta rouca, olhos fechados cantando cada silaba de cada musica como se fosse a historia da minha vida. E olha, eu vi pra lá de duas dezenas de shows do Cólera na vida.

E com esses shows a admiração e respeito só aumentaram. O prazer de ver no palco caras fazendo com um tesão e doação únicos aquilo que amavam me fez respeitar ainda mais a sua musica. Em minha dissertação de Mestrado há uma citação de "Em você", do supra citado disco "Tente Mudar o Amanhã". Em meu casamento tocou Cólera. E nunca me dei conta de quantas e quantas vezes a musica de Pierre, Val, Fabio e Redson me fez companhia - entre viagens de ônibus, noites bebendo sozinho ou em terras estrangeiras - como na Colômbia, onde um guri veio falar comigo quando me viu com uma camisa da banda em Bogotá.

O Cólera acabou. O motivo é óbvio. E a vida é assim - como diz mestre Greg Graffin, "everything must cease". Mas a música, essa manifestação única, tem essa qualidade: ela permanece. Ela fica. Os discos deles estão aí e sempre estarão. Entretanto, fato é que nunca mais veremos um show do Cólera.

E isso bateu na minha cabeça com mais força essa semana, quando se aproxima mais um tributo ao Redson, desta vez com a participação dos membros remanescentes - Pierre e Val. E a musica do Cólera fará com que, por uma noite, toda aquela sensação - a camisa suada, a garganta rouca - retornem. Com uma diferença: agora eu estarei no palco, ao lado deles. Tocando com eles. E acho que nunca quis tão pouco não ter que estar em um palco como desta vez.

Tocar ao lado de Pierre e Val, pra mim, com esta trajetória, é uma honra comparável a de um intelectual dividir uma mesa redonda com Milton Santos e Deleuze. Ou um escritor participar de um debate com Eduardo Galeano e Jorge Luis Borges. Mas quando olhar para eles, no palco, e começar a tocar os primeiros acordes, só vou lembrar que está faltando alguém ali.

Valeu aí Redson. Mesmo. Vou nessa, trabalhar, no calor do Rio, hoje velho, casado, com aquela vidinha que aos 18 anos você imagina super quadrada e burguesa. Mas vou ouvindo "Caos Mental Geral" no MP3 player. Como sempre fiz.

E ainda sigo, a meu modo, tentando mudar o amanhã, pela paz em todo mundo, por toda a humanidade, por todas as vidas em geral.