sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os shows do ano de 2010!

Em uma ano sensacional, destes que, talvez, nunca tenhamos visto igual, indie.punk.pop cumpre a difícil missão de construir um top 5 dos shows de 2010.

Em um ano em que passaram por estas plagas de Pennywise (com vocalista novo em um show incendiário) à Cat Power (um show de doçura em um Circo Voador Lotado), de Bombay Bicycle Club (literalmente bombados na Inglaterra, onde não consegui ingressos para vê-los) à MEN (o FANTÁSTICO projeto paralelo de membros do Le-Tigre), passando pelo ex- RAMONE Richie, indie.punk.pop viu de tudo!

Também estivemos vendo shows na gringa, como o Hot Festival, em Buenos Aires, onde assistimos PHOENIX e MIKA, passando pelo maravilhoso Allo Darlin (em um pequeno club de Londres) até chegar ao 1,2,3,4 Shoreditch Festival em Londres, com participação de Vivian Girls, We Have Band, Veronica Falls, Fucked Up e Peter Hook (este tocando TODO o clássico album "Unknow Pleasures" do Joy Division).

Mas, neste ano cheio de coisas lindas, os shows que ganharam o coração e o top 5 de indie.punk.pop foram estes (sem ordem de preferência):



- SOCIAL DISTORTION (Circo Voador - Abril) - Bem, esperei 20 anos para vê-los. Só isso já tá bom né? Além disso, o clima quase intimista do Circo e o set list perfeito fizeram deste um dos momentos mais bacanas de minha vida no rock! Inesquecível!


- AGENT ORANGE (Rock'n'Drinks - Abril) - Uma das bandas que mais me influenciou, em um show que nós ajudamos a fechar, em um pequeno clube, recheado de amigos para todos os lados, palco baixo, set list completo, som bacana, pogo animal e stage dives para todos os gostos com direito a papo com a banda e clima de brodagem. Perfeito!


- NEW MODEL ARMY (Citybank Hall - São Paulo - Agosto) - Poucas bandas ainda têm o que dizer neste mundo. Poucas bandas falaram tanto à minha vida quanto esta. E poucas bandas com quase 30 anos de estrada seguem fazendo um show tão intenso, empolgante e com tantos hinos quanto o combo capitaneado por Justin Sullivan. Uma noite que começou perfeita encontrando Sullivan na porta do show e terminou com todos cantando "I love the World" a plenos pulmões!


- DINOSAUR JR (Comitê Club - São Paulo - Setembro) - uma das bandas mais importantes do cenário "indie" mundial, tocando TODOS os seus clássicos em um pequeno clube lotado de fanáticos que cantavam sílaba por sílaba das musicas. E ainda por cima com um J.Mascis afiado acompanhado de um Low Barlow (Sebadoh) totalmente insano. Nota 10!


- JELLO BIAFRA AND THE GUANTANAMO SCHOOL OF MEDICINE (Teatro Odisséia - Novembro) - Se no final do ano passado já colocavamos o disco do cara como um dos 5 melhores do ano, assisti-lo ao vivo com sua banda, em um local pequeno como o Odisséia totalmente lotado de fãs, em um show totalmente caótico e fora de controle, com um pogo insano e um festival de stage dives suicidas, só serviu para me lembrar que o hardcore é isso: intensidade, insanidade, sair do eixo! Uma aula em que não faltaram clássicos da mais ameaçadora banda de HC de todos os tempos - sim os DEAD KENNEDYS. Mais que um show, uma celebração do hardcore!

E que venha 2011!!

domingo, 5 de dezembro de 2010

PENNYWISE (Circo Voador - 04/12/2010)



E o Pennywise, uma instituição do hardcore californiano esteve mais uma vez (a terceira) entre nós. Mas desta vez havia uma expectativa no ar em relação ao novo vocalista - Zoli - que cumpre a difícil missão de substituir o fundador do combo, Jim.

Lona cheia - surpreendentemente - e as 22:30 o NITROMINDS inicia seu show já com um bom público no picadeiro. E este bom público respondeu com um pogo animado aos sons da banda, como "Fire and Gasoline", a linda "Flowers and common view" e "something to believe". André e Lalo estavam bem empolgados, agitaram o público, convidaram todos a cantar juntos, a fazer o famoso "wall of death" e encerraram com a "crássica" "Policemen" sua meia hora de porradaria. Um showzaço com direito a "discurso" de um jovem ao final que subiu ao palco e começou a falar sobre a cena nacional, valorizarmos as bandas brasileiras, bla, bla, la. Ok. Desnecessário ali, naquele momento, naquele contexto. Mas deixa a juventude se expressar...

Rolé pelo circo, cerveja com os amigos, galera andando de sk8 e em pouco tempo os donos da noite sobem ao palco. E com "Every single day" emendada com "Can't Believe it" o PENNYWISE colocou o circo inteiro para pogar. Cara, você tinha duas opções: ou ficava na pista e entrava no pogo - sim, a pista INTEIRA pogava - ou ficava nas escadas assistindo. Fiquei meio a meio, hora ia lá, hora voltava. E a coisa em um crescente de interação banda-público, daquelas que só o Hardcore proporciona.

O esperado vocalista Zoli passou no teste com sobras: puta presença de palco, voz afiada e muita energia - o cara estava claramente feliz por estar ali! O guitarrista Fletcher agradece ao "público mais selvagem da tour" e a resposta é em forma de mais stage-dives acrobáticos e mais pogo insano. Rio de piranhas.

Entre as surpresas um cover de Misfits - "Astro Zombies". E sim, eles tocaram todas as clássicas: "Same old story", "Peaceful day", "Fuck Authority", "Society" e o final, no bis, com "Alien" e a invasão insana (centésima vez que uso este termo neste texto?) do palco na legendária "Bro Hymn", que terminou com o publico no palco cantando à capela a musica. Final lindo para um show histórico. A banda certa no lugar certo, empatia e muita energia. E que fechou, com chave de ouro, este ano maravilhoso de shows!


Thanks Cla pela foto!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Passei a semana escutando...IDA MARIA

O mundo está cada vez mais repleto de bandas da semana e efemérides do mês. Mas em meio ao turbilhão de informação, sempre há algo que te "cata" pelo ouvido e se sobressai em meio à avalanche. E uma destas pérolas que descobri ha pouco tempo foi a cantora Norueguesa IDA MARIA.

A moçoila faz um som naquela praia guitarreira, com batera e baixo marcadão e distorção na dose certa. Mas o que se destaca é seu vozeirão: rouco, hora sussurado, hora gritado, mas sempre intenso.

Desde que ouvi "oh my God" a voz da moça me arrebatou e desde então seu disco "Fortress Round My Heart" frequenta assiduamente meu mp3 player.

Ida Maria faz rock com cara deste início de seculo. E faz este fim de década mais agradável aos ouvidos indie.

Você pode ouvi-la aqui: http://www.myspace.com/idamaria


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Hot Festival 2010 (Costañera Sur - Buenos Aires - 19/11/2010)



Viagem a trabalho de ultima hora e lá fui eu vender minhas entradas para o Planeta Terra Festival. Mas, para atenuar, fiquei sabendo que rolaria em Buenos Aires, para onde estava indo, um outro festival com algumas bandas que tocariam no Terra. E lá fomos nós sacar qual era do tal "Hot Festival".

Os shows eram no espaço Costañera Sur, atrás de Puerto Madero - famoso bairro revigorado da cidade. Fomos de taxi até determinado ponto e, dali em diante, teríamos que caminhar. E olha, uma senhora caminhada. fomos acompanhando os "mudernos" portenhos e logo chegamos a entrada. Que era...bem, era isso aí abaixo.

Entramos e o primeiro susto: o show do PHOENIX, marcado para as 7 da noite, foi transferido para...meia noite! Fico puto mas beleza. O espaço do festival é bem grande e amplo. Há bastante banheiros químicos e 3 palcos. Um guindaste com uma mesa presa a ele é uma das "atrações": o bar suspenso. Pegamos o meio do SENSACIONAL show do YEASAYER. Mesmo com poucas pessoas, os novaiorquinos colocaram todos pra dançar!

Pausa e resolvemos beber umas. Há um espaço fechado, tipo "cercadinho", onde os maiores de 18 podem consumir cerveja (e eu achava que essa praga era exclusividade nossa). Entramos e ganhamos uma pulseirinha que "dava direito a duas cervejas". Dei o maior gritão: "uuhhú, cerva grátis"!!!! Entro, peço minhas duas cervas, o cara corta minha pulseirinha para comprovar que pedi as 2 que tinha direito e...me cobra 40 pesos!!!!! E eu lá, com cara de "ãh"? E aí ele me explica: CADA ADULTO TINHA DIREITO A COMPRAR E BEBER APENAS 2 CERVEJAS DURANTE TODO O SHOW! Deixa eu repetir, duas cervejas a noite toda!!! E eu e Fabiana começamos a rir daquilo. Daí em diante passamos meia hora para beber cada copo de Quilmes. E a fila do bagulho depois que entrarmos ficou GIGANTE!

Enquanto degustávamos nossas Quilmes como se fossem whisky, os argentinos do ARBOL mantinham a boa galera atenta com seu pop indie divertido e inofensivo. A "fauna" do evento já valia uma resenha: indies mudernos, headbangers com camisas do Venon, turistas desavisados e famílias com crianças - de 8, 10 e até bebês em carrinhos! Foféssimo! Em seguida, o GIRL TALK iniciou sua festa para jovens no palco 2 em uma apresentação cheia de efeitos, chuva de papel higiênico e musica que é bom, quase nada. Os mash ups da banda podem fazer sucesso em uma pista de dança, mas ali só nos levaram a beber mais rápido as 4 Quilmes a que tínhamos direito.

Depois de bebidas nossas 4 cervejas, fomos em direção ao palco principal onde MIKA começaria sua apresentação. E o cara é bem popular em Buenos, pois foi o show mais cheio e mais gritado pelo público. Com "take it easy" ele deu inicio a um belo show, redondinho, com ótimas musicas e com uma bela produção. Em "Big Girl (You Are Beautiful)" a casa veio abaixo, todos cantando e muita gente chorando - sério. A banda do cara é foda, a backing vocal é um show a parte e a batera então, nem se fala! O show segue quente com "rain" e encerra com "we're golden" com direito a chuva de papel picado dourado e personagens caracterizados no palco. O cara é um puta frontman e o show foi muito, muito irado. Saldo positivissimo pro Mika.


Uma volta pelos diversos stands e vamos para o palco 2 ver o HOT CHIP. O palco deles é menor e o inicio com "And I Was A Boy From School" não empolga. Talvez porque eu nunca tenha sido muito fã do som deles, sinto que a parada está fria. Em "over and over", a quarta musica, a coisa esquenta um pouco, mas os portenhos parecem também não muito empolgados. Saio no meio de "I feel better" pra beber um refri e descubro depois que foi a penúltima musica do show. Chato.

em seguida, no palco principal, Scissor Sisters. Cara, estava curioso com o show deles porque, em disco, parece divertido, apesar de não ser muito minha praia - uma disco requentada com toques de guitarras pesadas. Mas o resultado é catastrófico. Todos os clichês do rock em um só show, dois vocalistas equivocados e muito, mas muuuito over e musicas que, ao vivo, não funcionam. Cara, me deu muuita vergonha alheia dos vocalistas, em especial do tal Jake Shears, com caras e bocas e um macacão de vinil colado que parecia a roupa do homem aranha. Na boa, diva gay é o Mika, que tem talento e presença. O Scissor Sisters é só uma banda clichê ruim. E ponto.

Nem vemos o final e já nos direcionamos ao palco 2 onde uma multidão de indies já se aglomera ansiosa. E a meia noite e quinze, o PHOENIX sobe ao palco para o show mais esperado da noite - por mim, claro! E com "Liztomania" a pista do festival vira um liquidificador, com todos dançando e pulando. Os argentinos ainda fazem aqueles "ôôôôs" tipo torcida de futebol para acompanhar as partes instrumentais da musica, o que fica ainda mais divertido. "Long distance call" e "Fences" em seguida deixam a coisa ainda quente. Em "girlfriend" a multidão dá uma acalmada, mas segue cantando junto. Estou próximo do palco e neguinho não para de tentar chegar mais perto - argentino não conhece muito bem física, sabe, tipo "2 corpos não podem ocupar o mesmo espaço". O final do (curto) show é matador com "Rally" (abri uma roda em minha volta nessa) e uma versão longa de "1901". Galera em êxtase e a banda se retira com saldo mais que positivo, mesmo devendo um bis pro povo.

Saída, cerca de 20.000 pessoas caminhando em procissão por cerca de 2 kilometros até conseguir chegar aos pontos de ônibus. Eu ainda passei uma romaria para conseguir um taxi que me levasse para beber uma CERVEJA perto do hotel, para fechar bem uma bela noite!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine (Teatro Odisseia - 09/11/2010)



Não custa nada lembrar: isso não é uma resenha, mas um texto passional, sem comprometimento com narrativas lineares e feito por um apaixonado por musica e rock, ok?

Final dos anos 80 e um brother meu chega no colégio com um disco de vinil branco. A gente estava escutando muito RAMONES e bandas inglesas como Cure, Smiths e Joy Division. Mas ele me saca a porra do vinil branco de uma banda com um nome engraçado: "Dead Kennedys". Gravei uma fita e ele escreveu (à mão) as letras pra mim. Ali, exatamente ali, minha vida começava a ser definitivamente estragada. As letras de Jello Biafra e as guitarras de East Bay Ray mudaram minha vida e me marcaram a ferro e fogo pra sempre.

Em 1992 tive a primeira oportunidade de encontrar o mentor intelectual da minha desgraça, em uma breve aparição dentro do um show do RDP no circo voador. E já havia sido histórico, inesquecível. Mas o que aconteceu ontem no Rio de Janeiro superou todos os limites.

A fila gigantesca na porta do Odisséia (dobrando a esquina) já dava idéia de que mais gente além de mim teve a vida igualmente estragada pelo DK. Muitos amigos das antigas, agora senhores respeitáveis, aguardavam ansiosamente pelo encontro com Jello Biafra. Um amigo meu comenta: "O (cemitério do) Caju deve estar vazio hoje, os mortos sairam todos das tumbas"!

Graças a maratona da entrada, perdi as bandas de abertura: Priest of Death e os (excelentes) Estudantes. A casa está completamente abarrotada e é difícil andar pelo teatro. Consigo um canto à direita do palco e ali fico.

E as 23:00 com as luzes apagadas, um a um os membros da escola de medicina de Guantanamo vão entrando. E em seguida, com um jaleco branco com uma camisa dos USA manchada de sangue (artificial, ok?) por baixo, "O" cara entra no palco. E com "the terror of tinytown" dá início à uma noite de caos, desordem, punk rock e destruição. Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine estavam ali diante de um teatro lotado e com o jogo ganho.

O pogo é s-e-l-v-a-g-e-m e os stage dives se sucedem. Mas é na quarta música que o que estava apenas agitado, tenso, se torna de fato CAOS - aquele caos que só o punk rock pode proporcionar. "California Uber Alles", um dos maiores clássicos da história do DK põe o Odisséia
abaixo e a pista parece rio de piranha! Dou meu primeiro Stage Dive e logo que me recupero alguem cai em cima de mim: era o próprio Jello Biafra, que do alto de seus 52 anos esbajava energia como muita banda de garoto não consegue, pulando sobre o público enquanto canta a musica.

O show segue quente, o som alto e a banda competente segura as pontas! Musicas como "New Feudalism", "Panicland" e "Three Strikes" são cantadas pelo público e mostram que Jello mantêm a lingua afiada. Entre os sons, os velhos discursos de Jello: sobre como as multinacionais do petróleo financiam o contrabando de armas, sobre o controle dos USA sobre a plantação de coca e marijuana na America Latina, sobre machismo. E o clima em um crescente de agitação, desordem e caos. Esqueça os showzinhos de punk rock comprtados de hoje em dia, aquilo era hardcore como deve ser: insano, fora de controle! Jello agora está com uma camisa com fotos de jatos de guerra e a frase: "Democracy: we deliver". Todos suam em bicas e a pista parece uma piscina. E tome "Let's linch the Landlord" nas idéias, e tome stage dives.


A épica "Holiday in Cambodia" encerra o show com um pogo animalesco que se estendeu quase ate a porta do Odisséia. Perfeito! A banda sai, faz aquele cú doce de sempre e em menos de um minuto volta para tocar "Too drunk to fuck" do DK e colocar ainda mais carne e sangue no rio de
piranhas. Outro final, mais uma saída de palco, mais um pouquinho de cú doce e voltam ao palco. E assim foram mais dois bis, começando com uma musica nova e fechando o show de maneira (atenção para o milésimo clichê deste texto) "apoteótica" com a clássica "Bleed for me" do Dead Kennedys e com a nova " I Won’t Give Up". E ninguem pediu mais nenhum bis porque mais de metade do público estava a procura de um desfibrilador ou de uma máscara de oxigênio: extenuados, mortos, cheios de hematomas e com um inconfundível sorriso no rosto.

Jello andou dando declararações equivocadas nos ultimos anos, passou por um processo complicado com os ex-membros do DK, gravou discos insignificantes. Mas com o Guantanamo School of Medicine ele prova que ainda tem muita lenha para queimar. E que o posto de maior frontman do punk rock atual segue sendo dele.

Quem viu viu, quem não viu, torça porque este show merecia virar DVD.

PS: MEGA parabéns ao pessoal da A Grande Roubada pela iniciativa, correria e disposição de acreditar em um show destes em plena Terça Feira. Valeu!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dinosaur Jr (Comitê Club – SP – 29/09/2010)


Noite fria na Rua Augusta. Muita gente nos bares. Andamos da Av. Paulista um bom pedaço até chegar em frente a uma aglomeração na altura do numero 600. Era a porta do Comitê club, casa meio "nova" do circuito paulistano e que naquela noite receberia em seu palco ninguém mais ninguém menos que o Dinosaur Jr.

Maluco, DINOSAUR JR, sacou? Tu gosta de Nirvana? Curte Smashing Pumpkins? Curte rock independente em geral? Pois é isso, o rock independente – conhecido como “indie rock” – deve às calças e cuecas à banda liderada por J. Mascis. Desde os anos 80 eles, o Sonic Youth e os Pixies formam a santíssima trindade do rock independente mundial, dando as cartas, influenciando zilhões de bandas e consolidando um estilo de guitarras distorcidas, vocais limpos e melodias marcantes. Por isso a simples presença do Dinosaur Jr em terras brasilis suscitou tanto alarde, tanta movimentação na cena independente.

O bar ao lado do Comitê Club parecia boteco do Rio, tantas eram as caras cariocas conhecidas circulando por ali. Todos ansiosos pela parede de guitarras de J. Mascis que veio muito bem acompanhado por Low Barlow (o frontman de outra banda seminal do indie americano dos 90’s, o SEBADOH) no baixo.

Show marcado para as 23:00 e, quando entramos, o primeiro susto: a casa é pequena. Lembra o antigo Ballroom, aqui no Rio, mas com um tamanho de Teatro Odisséia. E já está abarrotada de gente. Tomamos umas cervas e nos posicionamos à esquerda do palco, estrategicamente em frente à parede de amplificadores Marshall que seriam a máquina de moer tímpanos de Mascis naquela noite – 6 amplis perfilados e mais dois de retorno! O palco baixo aumenta a ansiedade pela proximidade com a banda. A discotecagem só com clássicos do indie dos 90's vai pondo mais lenha na fogueira. E tome Sugar, Eugenius, Le Tigre e Teenage Fanclub nos alto falantes!

E perto da meia noite, luzes apagadas, o Dinosaur Jr entra no palco. E daqui pra frente eu não posso mais “resenhar” nada, porque a pista do Comitê se tornou um liquidificador e eu não anotei porra nenhuma, só me acabei junto ao mar de viciados ensandecidos pela parede de guitarras distorcidas que Mascis despejava sobre nós. Sei que rolaram, entre outras, “In the Jar”, “The wagon”, “Feel the pain” e “Over it” em sequência, além de surpresas como “Repulsion” e "Raisans". A presença de palco de Low Barlow é absolutamente sufocante, o maluco agita pracas – apesar de umas paradas chatas para afinar o baixo e ajustar os volumes.


Mascis é fantástico: toca e canta com uma simplicidade e precisão que me envergonha de ser - ou tentar ser - guitarrista. Seus solos distorcidos são absolutamente claros e precisos, seu set de pedais é impressionantemente variado e o cara abusa dos wha-whas e fuzz. Fico completamente hipnotizado em “Pieces” com seus solos em meio às projeções de luzes ao fundo do palco. Mascis não dirige uma palavra ao público durante o show. Apenas um ou outro "thanks" após uma ou outra música. E nem precisava.

Após uma hora e meia de detonação o bis chega, com a famosa cover de “Just like heaven” do Cure. Final de show, um mar de gente suada e feliz e nós saímos voando pra rodoviária, com um zumbido no ouvido que ficou até agora. Inesquecível!



Set list:
  • The Lung
  • Repulsion
  • In a Jar
  • Imagination Blind
  • Get Me
  • Pieces
  • Out There
  • Feel the Pain
  • Over It
  • Raisans
  • Back to Your Heart
  • The Wagon
  • Freak Scene
  • Gargoyle
  • Just Like Heaven

domingo, 26 de setembro de 2010

Os discos da semana (alguns, do mês, alguns do ano)

Finais de semana são sempre bons momentos para fazermos um review da semana. E esta não foi uma semana qualquer. Nela pude ouvir com calma os novos trabalhos de 4 das bandas prediletas deste blog. Cada um a sua maneira me trouxe emoções diferentes.



Bad Religion - "The dissent of man"
Ouvir um disco novo do BR é como voltar de férias a uma cidade em que você já esteve e amou. Ou seja, você já sabe o que vai ver (ouvir), já conhece bem, mas sempre espera alguma novidade. Sejam elas boas, ruins ou apenas...novidades.

Neste caso, a novidade é que em "The dissent of man" o Bad Religion dá uma clara desacelerada na pegada. Apesar da maravilhosa "The Day That the Earth Stalled" começar à mil seguida de "only rain" - dois típicos hardcores acelerados e melódicos que fizeram da banda os ícones do gênero - daí em diante Greg Graffin e asseclas pisam no freio e apresentam belas e molodiosas canções mais pendentes para o punk-country que o hardcore. E isso em nada diminui o album, apenas nos apresenta uma faceta mais "roqueira" da banda. As letras de Graffin seguem sendo o ponto alto do Bad Religion, como nas maravilhosas "Where the fun is" e "Wrong way kids". No final das contas, é Bad Religion, é sempre bom - mesmo que de um jeito diferente.



Weezer - "Hurley"
O Weezer é o tipo de banda que poderia perfeitamente se enquadrar na descrição do primeiro parágrafo do Bad Religion, ou seja: ouvir um disco novo deles é meio que descobrir o que já se espera. Neste caso, a diferença é que "Hurley" é um disco muito melhor que os irregulares "red album" e "Ratitude", trabalhos anteriores de Rivers Cuomos e cia. A banda apostou em fazer um álbum bem homogêneo, na velha receita "power pop", com musicas assobiáveis em meio a guitarras ditorcidas, que fizeram o sucesso do =W= mundo afora. Entretanto, na terceira ou quarta audição, você se dá conta que é homogêneo demais. Todas as canções são legaizinhas, bonitinhas, mas falta alguma que te pegue pelos ouvidos, falta alguma que tenha um "quê" a mais, falta um hit. E "Hurley" é isso, um disco legal, com boas canções, mas nenhuma que te faça arregalar os olhos e dar repeat no mp3. E pensando bem, desde o "Green album" que o Weezer vem fazendo isso. Para os fãs, uma sensação que o Weezer ao menos está dando sinais de recuperação. Mas ainda muito longe da criatividade dos tempos de "Pinkerton".



Arcade Fire - "The Suburbs"
Infelizmente eu não estava no antológico show do Arcade Fire no Tim Festival de 2005. Este é um ressentimento constante que tenho ao ouvir os canadenses, desde os tempos do maravilhoso álbum "Funeral" de 2004. A sutileza e força do Arcade Fire ganham cada vez mais adeptos mundo afora, como pude comprovar em Paris, onde os caras estampavam outdoors por todas as estações de metrô da cidade, com matérias de revistas sobre o novo album da banda. E "The suburbs" não deixou nada, absolutamente nada a dever.

O Arcade Fire passou com ressalvas pelo famoso "teste do segundo album" (com o mediano "neon bible" de 2007), mas chegou a sua terceira gravação apresentando ao mundo um dos melhores discos do ano. "The Suburbs", ao contrário de "Hurley" do Weezer (citado acima) é um conjunto de pérolas, de músicas cuidadosamente trabalhadas em cada detalhe, em cada textura. A cada audição, você descobre um novo arranjo, um novo verso e consequentemente o disco se reinventa a cada vez que você escuta. Da primorosa faixa título passando pela perfeita "Ready to start" e "hall light", o Arcade Fire apresenta um dos discos mais agridoces do ano, suave e pesado ao mesmo tempo. A quantidade de informação de cada música e a simplicidade com que são construídas fazem de "The suburbs" desde já um dos mais fortes concorrentes a disco do ano. Entretanto, a concorrência é forte...



Superchunk - "Majesty Shredding"
Em um mundo de hypes duvidosos e "bandas-da-década-da-semana", poucos conseguem atravessar anos e décadas sem perder um pingo da integridade e qualidade musicais. O Superchunk, favoritísimo da casa é uma destas raras exceções. Formada no inicio dos 90's, o quarteto vêm brindando os fãs anos a fio com canções maravilhosas e álbuns perfeitos. Quem os viu pelo Brasil em suas duas tournées (1998 e 2000) sabe bem do que eu falo. E depois de um hiato de 6 anos sem nenhum lançamento, eis que nossos heróis retornam com o espetacular "Majesty Shredding", desde já o disco do ano para indie.punk.pop

O Superchunk consegue como ninguem absorver a pegada e o punch do punk e associa-lo a riffs melodiosos de guitarra. Consegue como ninguem conectar melodia e peso, lirismo e simplicidade fazendo cada música soar única, mesmo que você a escute pela milesima vez. Neste novo álbum eles ressurgem dispostos a mostrar ao mundo que no meio indie (ou guitar, como eram chamados nos 90's), eles dão as cartas. O cartão de visitas que abre o disco é a linda "Digging For Something", que além de ter um refrão que gruda por semanas na cabeça, ainda tem o clip mais legal dos ultimos anos (que você pode assitir aqui). Em seguida, "My Gap Feels Weird" e "Rosemarie" fecham a primeira parte do dsico com mais melodia que peso. A já conhecida, do ano passado, "Crossed Wires" (de um dos 2 Ep's lançados pela banda em 2009) dá sequência ao desfile de hits que chega ao ápice com a também conhecida e candidata a hit da década "Learned To Surf".

"Majesty Shredding" é daqueles discos completos, que voce não pula nenhuma faixa. E encerra com uma das mais belas canções melancólicas da banda, a linda "Everything At Once", deixando um gosto de quero mais que faz com que o disco fique no "repeat" do mp3 a semana toda. O Superchunk supreendeu mais uma vez com a simplicidade, beleza e peso que só as grandes bandas conseguem ter. Nota 10!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

New Model Army (Citybank Hall - São Paulo). 18/07/10



Poucas bandas no mundo de hoje ainda têm algo a dizer. Escrevi isso ha 3 anos, quando o New Model Army tocou pela última vez no Brasil. E tive a oportunidade de reafirmar esta máxima, Sábado passado, enquanto saía do show dos ingleses em São Paulo rumo à rodoviária para uma volta pra casa cansada e feliz. Sim infiéis, Justin Sullivan e asseclas estiveram mais uma vez entre nós no último final de semana.

O New Model Army, uma banda rock/ folk que é amada entre punks, headbangers e rockeiros em geral está completando 30 anos de carreira e em comemoração fazendo uma tour em que tocam musicas de todos os seus albuns. Em SP foram dois shows, Sexta e Sábado. E indie.punk.pop esteve Sábado conferindo a performace dos ingleses.

O Citybank Hall é uma boa casa, com infra legal e uma disposição retangular interessante, que faz com que, apesar do tamanho, você fique sempre perto do palco. O público era basicamente formado por balzaquianos (como este escriba), daqueles que saem de casa para raros shows - uma galera que fica mais exigente a medida que os cabelos brancos começam a abundar - ou rarear. No bar antes do show, o papo com amigos paulistanos era animado, como o pessoal do excelente blog Minerva Pop (nos favoritos aqui ao lado).

Entramos na casa e as 22:15 Justin Sullivan sobe ao palco com seu violão acompanhado do tecladista Dean White na guitarra, e os primeiros acordes de "Heroes" dão o pontapé inicial na primeira fase do show - acústica. O som é perfeito e a presença de palco de Sullivan é sufocante. Ele conversa entre as musicas e é acompanhado em boa parte delas pelo público altamente conhecedor do repertório da banda.


Seguem "No pain", "Another imperial day" e a primeira parte encerra com "Modern times", já com a banda no palco. Eles se despedem para um intervalo de 20 minutos e só esta primeira parte já me levou ao êxtase. Uma volta e uma cerveja gelada (por extorsivos R$ 7,00!!) e logo estamos de volta à frente do palco.

E veio a segunda parte do show e a banda entra atacando com "Island" e o público, lentamente, começa a esquentar as coisas. E "The Hunt" era a centelha de pólvora que faltava para incendiar o show. Daí pra frente foi festa pura, com Sullivan cada vez mais possuído e comunicativo e a banda mais afiada que nunca. E tome "Vagabonds", "Here comes the war", "Purity" (marejei, confesso...) e "no rest" encerrando o show. Mas ninguem arredava pé e eles voltam rapidamente para o bis. E que bis! Encerram o show com a dobradinha "225" e "I love the World", esgotando com a ultima dose de energia deste balzaco.

Feliz como virgem em puteiro, saio pela noite fria de SP de volta ao balneário, com a convicção de que vi um dos shows do ano, feito por uma das bandas da minha vida. Como aliás, havia avisado um amigo que encontrei na porta do Citybank Hall antes do show...este da foto abaixo.


PS: Thanks à Silvia pelas fotos

Set list
Acustico
Heroes
Snelsmore Wood
No Pain
Another Imperial Day
You Weren't There
Lovesongs
The Attack
Modern Times
Ocean Rising

Plugado
Island
Christian Militia
Long Goodbye
Falling
One Of The Chosen
Carlisle Road
The Hunt
Red Earth
Get Me Out
Vagabonds
Knife
Autumn
Here Comes The War
Purity
No Rest
Marrakesh
Wired
225
I Love The World

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Bombay Bicycle Club e os "indies" cariocas (Teatro Odisseia - 25/09)


Ontem uma das bandas mais comentadas da atual cena inglesa deu as caras nesta terra esquecida pelos Deuses do rock. O Bombay Biclycle Club veio tocar no Rio para uma platéia cheia, porém sem muito interesse em vê-los.

A banda tem tocado nos principais festivais ingleses apresentando seu album "I Had the Blues But I Shook Them Loose". Ha um mês, quando estive em Londres, tentei comprar ingresso para um dos 3 shows que fariam na cidade e estavam sold out ha 3 semanas! Além disso, o rock dançante e psicodelico dos caras é um convite bastante atraente para sair de casa em plena Quarta Feira com futebol estourando na TV.

Chego na porta do Odisséia e a boa fila dá a impressão positiva que o público carioca respondeu bem a combinação "banda gringa boa + ingresso barato" (mais que honestos 20 reais). Lá dentro, casa cheia mas não lotada e as 22:30 o Bombay entra no palco ao som de "Magnet". O som está bem equalizado e estamos bem perto do palco. Mas aí começa o problema. Muita, mas MUUITA gente ali presente não estava nem aí para o que acontecia no palco. Todos estavam interessados em conversar com os amigos, ALTO, zanzar pra lá e pra cá em uma interminável sessão de empurrões e trombadas mal educadas, musica após música. A banda mandando ver um crescente com "The hill" e "dust on the ground" e neguinho papeando ao lado, na frente, atrás. Tentamos mudar de lugar, mas a coisa seguia. Os "cariocax dexcoladux do Leblon" queriam ver e ser vistos, e não ouvir uma ótima banda. Me deu saudade do Lumiere, de Londres, onde este aviso abaixo dá as cartas da casa:



O Bombay segue firme, com destaque para o vocalista Jack Steadman que parece possuído e é o membro da banda que toca com mais energia. O grupo é bem jovem e parece bastante a vontade no pequeno palco do Oddisséia. Eles tocam 11 musicas e encerram o show. E minha paciência já havia se esgotado também. A caminho do caixa vejo que eles voltam para tocar o hit "Always like this" no bis , com a percussão do Empolga as 9 e isso enterra definitivamente meu bom humor.

Saindo do Odisseia, conversando com amigos e minha mulher, ficamos pensado se, de fato, o Rio tem condições de abrigar bons shows de bandas indie de porte médio. Porque ao que parece, o público existe em pequeno numero, e quando os shows enchem, a musica parece ser a última coisa que interessa à parte das pessoas que vai: o "evento", o "ver-e-ser-visto", o "estilo" parecem contar mais. Sad but true. E a própria placa do clube em Londres mostra que, talvez, seja um problema universal. Mas que vamos ver o Phoenix em BH, please, vamos.

domingo, 22 de agosto de 2010

B. Negão e os Seletores de Frequencia - Sábado, 21 de Setembro. Oi Futuro (Rio de Janeiro)


Bernardão Erótico, vulgo B. Negão é um patrimônio da cena undergrond carioca. Desde sua primeira banda, o mítico FUNK FUCKERS, passando pelo Planet Hemp até chegar à carreira solo, seu rap com fortes influências de dub e funk, sua voz grave e versos acelerados agregaram uma legião de malucos que o seguem ha anos.

Eu sou um deles e, junto a vários outros, pude vê-lo mais uma vez em ação, ontem. Mas desta vez em um palco que têm parecido ser uma excelente opção para shows médios no Rio, o teatro do Oi Futuro em Ipanema. Conforto, ingressos pra lá de acessíveis (honestos 15 Reais) e um som simplesmente perfeito. Tudo pronto pro grande baile promovido por Bernardo.

A banda é composta por uma série de figurinhas carimbadas da cena under dos 90's. No baixo Kalunga (do Cabeça); no trompete e backings, Pedro Selector, que tocou em "n" bandas, entre elas a Pelvis; na guitarra Fabiano, do Manisfesto 021; nos vocais Paulão, a lenda da primeira formação do Gangrena Gasosa; e Robson na batera, além de mais um trombonista para este show.
O show começou quente com a banda entrando aos poucos e com "A palavra" dando o pontapé inicial no desfile de hits como "Prioridades", Vai e volta" entre outros. B. Negão está a vontade, conversa com a galera e comanda o baile com aquela presença sempre "gente fina" de palco.
A disposição de teatro do lugar é que acabou dando uma esfriada, com todo mundo sentado ao som dos dubs e funckys da banda. MAs no meio do show B convida a galera da lateral a "chegar mais perto" e aí a coisa esquentou. Em especial com a sequência "Funk até o caroço" e "Dança do Patinho".

O final foi apoteótico de fato, com a cover de "It's Automatic" classico dos bailes Funk cariocas, da banda Freestyle. E finalizando, no bis vieram mais dois covers: A incrível "Ghost Town" da banda de Ska Specials e "there it is" de James Brown. Pura Festa. E B.Negão segue sendo um dos caras mas criativos e autênticos da cena carioca. Ainda bem para nós!

domingo, 15 de agosto de 2010

Passei a semana escutando...TORA BORA ALL STARS


A musica as vezes se apresenta para nós através do inesperado. Em um destes casos, durante uma viagem de férias, em Paris, me deparei com uma banda de ska tocando no meio de um parque, à luz do dia, na beira do Sena. Na hora parei para ouvir e a combinação de ska, reggae e Dub dos 8 caras que tocavam em meio as pessoas me chamou a atenção. O combo se chamava Tora Bora All Stars e conversando com um deles durante o intervalo da "apresentação" descobri que eles são da Alemanha e estavam de férias fazendo shows ao ar livre pela França.


O grupo formado em 2005 em Göttingen, no meio da Alemanha, conta com uma cozinha pulsante e dois vocalistas com muita presença de palco, que se revezam dando mais "gás" às musicas ao vivo. O naipe de metais formado por 2 caras tambem apóia nos backing vocals e as musicas, algumas em inglês e outras (a maioria) em alemão são leves e fogem do bate estaca do "ska-core", bebendo mais do dub e do ska tradicional.

Aqui você pode ver um pedaço da apresentação deles no parque em Paris e abaixo você pode ouvir o pulsante, dançante e irresistivel som destes rude-boys germânicos!



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

1-2-3-4 Shoreditch Festival (Londres). 24 de Julho




Sempre li e escutei sobre os festivais de verão ingleses. E não pude deixar passar a chance de ir a um, quando estive em London. O 1-2-3-4 festival, da Converse, é um festival anual que é conhecido por lançar novas bandas e colocar como headliners bandas que estão começando a "bombar" no cenário indie. Este ano, surpreendentemente, um dos headliners era um veterano da cena inglesa: Peter Hook, baixista do Joy Division e New Order, que iria fazer um show tocando todo o "Unknow Pleasures", primeiro e lendário disco do Joy.

O festival rolou em um parque pequeno, o Shoreditch, em um suburbio de Londres. Como era meu ultimo dia na cidade, acabei chegando por volta das 6 horas no festival, que havia começado as 13:00. E entrei em pânico quando, ao chegar na entrada, escutei de longe os acordes de "Candidate", do Joy division. Na hora pensei: "fudeu, perdi o show do Peter!" Correndo feito um louco chego e me dou conta que sim, já era Mr Hook no palco, mais cedo que eu imaginava. Entretanto, a musica seguinte "Insight", me fez ficar um pouco mais aliviado: ele estava tocando o "Unknow pleasures" na mesma ordem do disco.


A banda era composta por 4 caras (batera, teclado, guitarra e outro baixista que tocou a maior parte do tempo). Peter cantava e tocava apenas algumas partes de algumas musicas no baixo - notadamente aquelas em que seu baixo "sola". Em "insight" e "New dawn fades" quem canta é nada mais nada menos que Rowetta, ex-Happy Mondays. O público oscilava entre "mudernos" que ignoravam solenemente Mr. Hook e viciados em Joy que cantavam as musicas de olhos fechados.


A canção seguinte, "She's lost control" quase me leva às lágrimas. Mas também foi a música que mostrou de vez as deficiências de Peter Hook como frontman: ele claramente não conseguiu segurar a voz durante a musica inteira. Apesar da performace competente da banda, a voz oscilante e sem potência de Hook comprometeu daqui em diante. Mas "Shadowplay" colocou a galera pra pular e esquecer destes detalhes. Se é um esquema caça níqueis ou se Peter Hook decidiu ganhar uns trocados com seu passado brilhante, confesso que naquela hora nada importava: ouvir as musicas de um dos discos mais importantes da miha vida ao vivo era pra lá de emocionante. O show segue e em "interzone" rola outro momento "vergonha alheia" quando Peter esquece um pedaço da letra. Mas ok, segue o rock e "remember nothing" parecia encerrar o show. Peter Hook anuncia entretanto que teria mais "4 fucking minutes" e dedica a última musica do show à um amigo, que estava no backstage, pelo "casamento incrível que mantinha ha mais de 20 anos". E aí os primeiros acordes de "love will tear us apart" colocaram o parque Shoreditch abaixo! E que se foda a performace abaixo da crítica de Hook, as intenções desta tour, a porra toda! O que importava era cantar de olhos fechados e a plenos pulmões "When routine bites hard, And ambitions are low/ And resentment rides high, But emotions won't grow". Você pode ver um pedaço da musica aqui.

Final de show e resolvemos dar um rápido passeio pelo festival. Haviam 3 tendas e o main stage. Barracas de comida e poucas de bebidas, além de um stand da Converse e outros de street art. Com o programa do festival na mão descubro que havia perdido o show das incríveis Dum Dum Girls. Mas dali a poucos minutos, uma das bandas que mais tenho escutado no ultimo ano se apresentaria na tenda 2. E corremos pra lá.

WE HAVE BAND

Um espaço apertado e com "How to make Friends" o WE HAVE BAND começava a performace mais arrebatadora que eu veria naquela noite. O trio formado por um baixista, uma vocalista que também comanda um sintetizador e um outro percusionista/ vocalista começou o show com alguns problemas na altura da voz, mas já na segunda musica, "Hear It In The Cans", a tenda já havia se transformado em uma grande pista de dança.


Entretanto, durou pouco: apenas 8 musicas e eles terminam o show. Mas sons como "OH!", "you came out" e "Divisive" fizeram a tenda ir enchendo, as pessoas irem dançando e o clima esquentar. A vocalista Dede é uma figura à parte, com suas danças desengonçadas e jeito freak. Showzaço!!

Nem deu tempo direito de beber uma cerveja (quente) e as VIVIAN GIRLS já atacavam seu garage punk cru e sujo na mesma tenda. E para minha surpresa, estava beem mais cheia, comprovando a popularidade das meninas do Brooklin por Londres. Ao vivo elas soam ainda mais pesadas e sujas que nas gravações. A guitarrista e vocalista Cassie Ramone quase não fala com o público, mas a baixista Katy agradece a todos o apoio e, ao final, na musica "all the time" dá um stage dive e segue tocando seu baixo em meio ao crowd enfurecido. Termina o show e fico um pouco mais fã das Vivian Girls.

VIVIAN GIRLS

Corro para a tenda 3, ignorando o show do WAVVES que rolava no main stage. Isso porque uma das bandas indie low-fi mais bacanas atuais começaria seu show na menor tenda em minutos. O VERONICA FALLS começa o show e não há espaço para uma mosca na minúscula tenda. O quarteto londrino é animado e o som está beeem alto, mas muito bem equalizado. Assim, as vozes ficam nítidas e as guitarras claras e pesadas. Reconheço no meio do show a linda "Beachy head" que é cantada por muitos dos presentes. O show do Veronica Falls foi um sopro de energia em um escriba que já começava a emitir sinais de cansaço pelo dia longo e pelos shows sucessivos. Excelente performance, especialmente da dupla de guitarristas/ vocalistas (um cara e uma menina) que faz com que eles saiam ovacionados do palco.

VERONICA FALLS

Saio da tenda e em poucos minutos, no main stage, os canadenses do FUCKED UP começam seu show, aos gritos de "no bulshit tonight" do vocalista Damian Abraham. O cara é um tremendo frontman, e sem camisa, desce do main stage na primeira musica e passa TODO o show no meio da galera cantando e agitando o pogo. É impressionante o peso do som do Fucked Up ao vivo, uma das melhores performaces de punk hardcore que vi recentemente. As 3 guitarras no palco deixam o som ainda mais coeso. A banda tem muuitos fãs pelo festival e todos cantam em uníssono os sons da banda. Reconheço entre as musicas do show algumas como "Black albino bones" e "son the father".

FUCKED UP

Uma roda de pogo se forma desde o inicio, comandada pelos gritos de Damian. E as 21:45 o Fucked Up encerra sua brutal apresentação me deixando de cara. Vai se fuder! Punk com uma personalidade do caralho!

Caminhamos até o metrô com uma horda de gente, todos com caras cansadas e pedaços de grama nas costas. Todos felizes e eu, com uma lata de cerveja na mão e um sorrisão no rosto.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Allo Darlin + The Smittens + Antarctica Takes It (Luminaire - Londres). Julho de 2010


Há algum tempo descobri e me apaixonei pelo som do Allo Darlin. Por isso quando, em viagem por Londres, descobri que eles fariam um show na cidade, corri para aproveitar a chance.
O Luminaire fica em um bairro um pouco afastado do centro de Londres - Kilburn. Por isso, entre baldeações de metrô e trem, cheguei no fim do show do Antarctica Takes it. Sim, porque estava marcado para começar as 20:00 e nesta exata hora o quinteto indie folk estava no palco. Gostei bastante das duas musicas que ouvi, um som leve e pop, com uma vocalista um pouco crua mas com instrumental excelente.

Antarctica Takes It

Aproveitei o intervalo para pegar um pint de Guinnes (por inacreditaveis 3 Libras) e dar uma volta pela casa. O Luminaire é uma casa de pequeno porte mas com uma excelente estrutura. Para quem é do Rio, lembra o segundo andar do Cinematheque, mas um pouco maior. O palco é baixo com caixas potentes e uma TV LCD gigante transmite o show entre o salão e o corredor de acesso aos banheiros. O bar é grande e, como aqui, havia as banquinhas de venda de merch das bandas. Além disso, a casa fica a uma quadra da estação de trem, o que facilita pra burro o acesso.
Bem, voltando pra musica: os Smittens sobem ao palco e eu me aproximo para ver o show do quinteto londrino. A troca de palco foi rápida por um dado que me chamou a atenção - e muito: todas as bandas usaram os mesmos instrumentos. Ou seja, era só subir e afinar de novo. Não sei se é uma prática comum por aqui mas que agilizou - e muito - o andamento das coisas, agilizou.

The Smittens

O som dos Smittens segue a linha do Allo Darlin, ou seja, aquilo que por aqui convencionamos chamar, ha alguns anos, de powerpop - ou indie-pop. Vocal feminino (que também toca violão), muitos jogos de vozes entre a vocalista e o tecladista (o destaque da banda, com seu vozeirão de barítono) e um show pra lá de animado! Você pode ver um pedaço da deliciosa "Summer Sunshine" aqui. A casa avisa que faltam 5 minutos e a banda anuncia a ultima musica (sem chiar, sem pedir "só mais umazinha" ou ataques de estrelismo). Nesta ultima musica, os musicos trocam de posição: a baterista (uma menina magrinha e pequenininha, mas que toca pra burro!) vai para o vocal, a vocalista pra batera e o baixista assume os teclados. Divertido.


Mais uma volta e ficamos lendo os divertidos anuncios que a TV LCD transmite: das próximas atrações da casa ao horário dos ultimos trens, passando por avisos como "não somos um pub: se você quer conversar ao inves de ver as bandas, você está no lugar errado".


Mais uma Guiness e pontualmente as 22:00 o ALLO DARLIN sobe ao palco. E começam matando com a tríade "if loneliness was art", "woddy allen" e "Polaroid song" (cantei alto, confesso). O som da banda ao vivo é bem mais pesado que nas gravações. A presença de palco da vocalista Elizabeth Morris é excelente e ela segura o público com comentários divertidos entre as musicas - por exemplo, agradecendo à mãe do baixista Bill por ter financiado a compra de equipamentos da banda. O público está bem mais empolgado com o ALLO DARLIN e canta junto o refrão de "kiss your lips".


O show encerra as 22:45 com "Dreaming", contando com a participação do tecladista do Smittens, Bobby, dividindo os vocais com Elizabeth. A banda se despede e desce do palco para beber entre os presentes. E nós saímos em direção ao ultimo trem da noite, com a ultima Guiness na mão e com o refrão de "Dreaming" ainda na cabeça. Showzaço!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Passei a semana escutando...DUM DUM GIRLS


Mulheres gritando, à beira de um ataque de nervos! Bateria frenética, acelerada! Guitarras altas! Não, não é um ataque esquizofrênico do inverno carioca. Isso é o que se capta à primeira audição das DUM DUM GIRLS, quarteto californiano indie-eletro-pop.

As meninas tem musicas que hora convidam ao pogo, hora trazem referências à bandas góticas dos 80's, como Siouxie e o Mission. Soam sombrias e ensolaradas na mesma musica, como o Jesus and Mary Chain. Mas acima de tudo esbanjam originalizadade e personalidade no excelente disco "I will be". E têm sido presença constante no mp3 player ha algumas semanas. Vale o confere!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Passei a semana escutando...ALLO DARLIN


A ida pro trabalho, passando de ônibus pela enseada de Botafogo, olhando o pão de açucar e escutando uma doce voz feminina em meio a uma melodia assobiável acompanhada por violão, guitarra flat, baixo e bateria. O incrível dessa cena é que entre o som que rola no mp3 player e a imagem que vejo há um oceano - Atlântico. Se o visual do Rio amortiza o cansaço e a ida pro trabalho, esse mesmo trajeto feito ao som do ALLO DARLIN, banda indie-pop inglesa, se torna ainda mais encantador.

O ALLO DARLIN faz um som leve na linha do Belle and Sebastian, Câmera Obscura e afins, mas com letras extremamente criativas, que vão de um romance na cozinha enquanto se cozinha "chilli" a uma ode à Woody Allen, passando por câmeras Polaroids, solidão e outros. Temáticas urbanas de uma banda urbana fazendo som anti-urbano: relax, tranquilo, pop e assobiável.

Seu primeiro disco homônimo é uma jóia indie-pop que alegra dias de sol na America do Sul ou cinzentos em Glasgow.

link: http://www.myspace.com/allodarlin

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Teenage Fanclub - "Shadows" (2010)



E os príncipes da melancolia de Glasgow atacam de novo, depois de muitos anos de hiberbação. O Teenage Fanclub é uma banda fundamental, daquelas que fizeram toda a diferença nos anos 90's e marcaram sua presença no coração indie mundo afora. Sua combinação de guitarras limpas, vocais dobrados suaves e cozinha minimalista reaparece em "Shadows", nos presenteando com um pouco mais de beleza neste tardio final de década.

A primeira musica já é forte candidata a hit indie dos anos 2000: "Sometimes I don't need to believe in anything" traz uma guitarra de intro que fica na cabeça por semanas, apenas dois acordes, mas que com uma marcação simples de bateria e baixo e vocais dobradinhos e sussurados fazem da canção uma senhora carta de apresentação. O disco segue com as excelentes "baby Lee" e "the fall", uma letra tipicamente "teenagiana": melancólica mas com senso de humor. E o CD segue com aquelas musicas que dão vontade de botar a(o) namorada(o) no colo, abrir uma garrafa de vinho e curtir um final de tarde.

O disco é todo uniforme, bom da primeira a 12° e última faixa, sem grandes oscilações. Mas além de "sometimes I don't need...", deixar de destacar "I still have Thee" seria criminoso: uma canção pop que mataria de inveja Brian Wilson e os Beach Boys (ou, provavelmente, os encheria de orgulho).

O Teenage Fanclub saiu de sua hibernação pra presentear o mundo com mais uma pérola indie-pop, coisa que eles sempre fizeram como ninguem! E que saudade do show que vi deles em Curitiba, em 2004...

domingo, 13 de junho de 2010

O rock ontem, hoje e sempre: Richie Ramone (Rock'n'Drinks) e MEN (Circo Voador)




Sábado a noite tive a rara achance de estar em 2 shows com climas completamente diferentes, com publicos completamente distintos e com sensações diferentes mas com algumas aproximações entre si. E isso me ajudou a refletir um pouco sobre musica, som, vida. Os shows foram de Richie Ramone e do MEN.

As 9:00 da noite cheguei na melhor casa do Rio hoje, a Rock'n'Drinks, para ver um dos últimos caras que tem a honra de usar o sobrenome "Ramone", Richie, batera que gravou 3 albuns e permaneceu 5 anos na banda. Ele tocaria nesta noite na casa de Copacabana com o irmão de Joey Ramone, Mikey e uma banda de apoio, "Comando".

Casa entupida de tanta gente, metade balzaquianos que tiveram nos RAMONES sua fonte de libertação na vida, metade jovens que nunca haviam visto um dos felizardos membros do grupos vivos e ao vivo. E essa diversidade que deu a tônica do show.

Entre balzacos sentimentais e jovens eufóricos, Richie e Mickey desfilaram clássicos da, talvez, última grande banda do rock mundial (ok, Nirvana para mim não entra nessa definição, certo?). E tome "rockway beach", "sheena is a punk rocker" e outros classicos, em meio à musicas da fase de Richie, como a linda "somebody put something in my Drink" e a supreendente "Outsider". Nas 4 primeiras musicas Richie canta e depois assume a bateria enquanto Mikey toma conta dos vocais. O público literalmente enlouquece com todos os sons, mesmo os mau executados, com um claro desencontro entre a banda e os dois ramônicos (é bem provável que não tenham tido, de fato, tempo para ensaiar juntos antes do show). Mickey canta algumas musicas do album "don't worry about me" do Joey Ramone. E ao final fica claro que uma banda com a importância e pregnância dos RAMONES deixam sempre uma lacuna, uma carência entre os fãs. E momentos como estes transcendem, são uma grande celebração da historia do rock, uma celebração dos 3 acordes - mesmo apresentando um ou outro probleminha do ponto de vista puramente musical - mas, who cares??

Feliz da vida, saio voando da Rock'n'Drinks para o Circo Voador, onde rolaria o mini-festival Popload Gig 3, com shows das norte americanas Girls, do combo MEN e dos capixabas do Zémaria. Saio de uma celebração dos anos 70 e do rock passado e entro em um encontro do rock de hoje e amanhã.

O GIRLS abre os trabalhos em um circo voador beeeeem vazio. O som é indie, mas com um dado importante, que os diferencia das dezenas de bandas do gênero: É chato. Pra caralho. Se fosse em um palco menor, com menos pessoas, talvez sua mistura de My Bloody Valentine requentado com Teenage Fanclub de quinta tivesse até segurado a atenção. Mas no Circo foi, apenas, cansativo.

Entretanto, em seguida, um power trio da nova geração botaria o Circo Voador abaixo!! O MEN é um grupo que representa bem o que é a boa música de hoje: Alta, anárquica, sem regras e sem fronteiras - sem seguir nenhum modelo pré concebido. Um(a) Dj com sintetizador e duas guitarras colocaram o circo inteiro para dançar ao som do melhor eletro punk que existe, algo inimaginável para os fãs de Ramones ha 20 anos atrás: musica eletrônica energética e com alma, com vida!! Para muitos, essa mistura de dance "não é rock", "é musica de pista de dança" e outros clichês. Mas quando nos despimos dos preconceitos, o que sobra é apenas uma puta banda tocando musica para agitar, pra dançar sim, mas com mais atitude e energia que 99% das bandinhas poppy-punk de hoje!


Formada por remanescentes da clássica LE TIGRE, o MEN é um trio de rock tocando dance que faz até mortos sairem das tumbdas para dancarem suas musicas agitadas e cheias de texturas de guitarras pra lá de criativas! o Show é curto, mas vai crescendo com a vocalista JD (que parece um nerd de bermudas largas) dominando a cena acompanhada pela guitarra Ginger (uma Bjork Dyke) e pelo discreto guitarrista Michael.
ao final do show, o circo inteiro se torna uma grande pista de dança, com todo mundo agitando como se não houvesse amanhã.
Mas há. E o amanhã atende pela alcunha de MEN! Um showzaço! Que mostra que enquanto houverem jovens criativos e com espírito livre, o rock seguirá vivo - mudando, com novas caras e roupagens, mas vivo! e alto!
Link: http://www.myspace.com/men