quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine (Teatro Odisseia - 09/11/2010)



Não custa nada lembrar: isso não é uma resenha, mas um texto passional, sem comprometimento com narrativas lineares e feito por um apaixonado por musica e rock, ok?

Final dos anos 80 e um brother meu chega no colégio com um disco de vinil branco. A gente estava escutando muito RAMONES e bandas inglesas como Cure, Smiths e Joy Division. Mas ele me saca a porra do vinil branco de uma banda com um nome engraçado: "Dead Kennedys". Gravei uma fita e ele escreveu (à mão) as letras pra mim. Ali, exatamente ali, minha vida começava a ser definitivamente estragada. As letras de Jello Biafra e as guitarras de East Bay Ray mudaram minha vida e me marcaram a ferro e fogo pra sempre.

Em 1992 tive a primeira oportunidade de encontrar o mentor intelectual da minha desgraça, em uma breve aparição dentro do um show do RDP no circo voador. E já havia sido histórico, inesquecível. Mas o que aconteceu ontem no Rio de Janeiro superou todos os limites.

A fila gigantesca na porta do Odisséia (dobrando a esquina) já dava idéia de que mais gente além de mim teve a vida igualmente estragada pelo DK. Muitos amigos das antigas, agora senhores respeitáveis, aguardavam ansiosamente pelo encontro com Jello Biafra. Um amigo meu comenta: "O (cemitério do) Caju deve estar vazio hoje, os mortos sairam todos das tumbas"!

Graças a maratona da entrada, perdi as bandas de abertura: Priest of Death e os (excelentes) Estudantes. A casa está completamente abarrotada e é difícil andar pelo teatro. Consigo um canto à direita do palco e ali fico.

E as 23:00 com as luzes apagadas, um a um os membros da escola de medicina de Guantanamo vão entrando. E em seguida, com um jaleco branco com uma camisa dos USA manchada de sangue (artificial, ok?) por baixo, "O" cara entra no palco. E com "the terror of tinytown" dá início à uma noite de caos, desordem, punk rock e destruição. Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine estavam ali diante de um teatro lotado e com o jogo ganho.

O pogo é s-e-l-v-a-g-e-m e os stage dives se sucedem. Mas é na quarta música que o que estava apenas agitado, tenso, se torna de fato CAOS - aquele caos que só o punk rock pode proporcionar. "California Uber Alles", um dos maiores clássicos da história do DK põe o Odisséia
abaixo e a pista parece rio de piranha! Dou meu primeiro Stage Dive e logo que me recupero alguem cai em cima de mim: era o próprio Jello Biafra, que do alto de seus 52 anos esbajava energia como muita banda de garoto não consegue, pulando sobre o público enquanto canta a musica.

O show segue quente, o som alto e a banda competente segura as pontas! Musicas como "New Feudalism", "Panicland" e "Three Strikes" são cantadas pelo público e mostram que Jello mantêm a lingua afiada. Entre os sons, os velhos discursos de Jello: sobre como as multinacionais do petróleo financiam o contrabando de armas, sobre o controle dos USA sobre a plantação de coca e marijuana na America Latina, sobre machismo. E o clima em um crescente de agitação, desordem e caos. Esqueça os showzinhos de punk rock comprtados de hoje em dia, aquilo era hardcore como deve ser: insano, fora de controle! Jello agora está com uma camisa com fotos de jatos de guerra e a frase: "Democracy: we deliver". Todos suam em bicas e a pista parece uma piscina. E tome "Let's linch the Landlord" nas idéias, e tome stage dives.


A épica "Holiday in Cambodia" encerra o show com um pogo animalesco que se estendeu quase ate a porta do Odisséia. Perfeito! A banda sai, faz aquele cú doce de sempre e em menos de um minuto volta para tocar "Too drunk to fuck" do DK e colocar ainda mais carne e sangue no rio de
piranhas. Outro final, mais uma saída de palco, mais um pouquinho de cú doce e voltam ao palco. E assim foram mais dois bis, começando com uma musica nova e fechando o show de maneira (atenção para o milésimo clichê deste texto) "apoteótica" com a clássica "Bleed for me" do Dead Kennedys e com a nova " I Won’t Give Up". E ninguem pediu mais nenhum bis porque mais de metade do público estava a procura de um desfibrilador ou de uma máscara de oxigênio: extenuados, mortos, cheios de hematomas e com um inconfundível sorriso no rosto.

Jello andou dando declararações equivocadas nos ultimos anos, passou por um processo complicado com os ex-membros do DK, gravou discos insignificantes. Mas com o Guantanamo School of Medicine ele prova que ainda tem muita lenha para queimar. E que o posto de maior frontman do punk rock atual segue sendo dele.

Quem viu viu, quem não viu, torça porque este show merecia virar DVD.

PS: MEGA parabéns ao pessoal da A Grande Roubada pela iniciativa, correria e disposição de acreditar em um show destes em plena Terça Feira. Valeu!

7 comentários:

  1. Puta que pariu, Bolinho! Tenho nem comentários. Foda esse monte de letras aí.

    Me encheu absolutamente de tristeza por não poder ter ido! euashiuease

    Abraços!

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  2. Cara, você conseguiu traduzir bem o que foi o show. Insanidade!.
    Em 2001 eu já achei inacreditável ver o Dead Kennedys (ou DK Kennedys, alcunha da época). E agora em 2010 veio o complemento daquele show histórico.

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  3. Valeu Bruno! Sentimos sua falta Alexx! abraço

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  4. Porra Bolinho, melhor resenha do show...
    Agradeço em nome de todos da Grande Roubada!
    Vamos publicar hoje através do perfil da festa.

    Abs!

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  5. Ótimo post!

    Em terras paulista o show foi muito bom!

    Provos Brasil

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  6. Obrigado!

    Também gostei muito do seu texto...

    Bem pessoal e interessante...

    Gostei muito da história que você contou no início...

    Concordo com você. O show foi digno de gravaçao de DVD...

    Abs.
    Flavio Bahiana

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  7. Aê Bolinho, graças à tecnologia ficamos todos registrados neste show.
    http://www.youtube.com/watch?v=D9RI-NSBiyg&feature=mfu_in_order&list=UL

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