sábado, 10 de março de 2012

Come, Armageddon! Come! Morrissey na Fundição Progresso (ou "carta para um velho amigo")

Foto: Portal Terra
É Moz, faz bastante tempo né? Desde aquele ano de 86, em que você cantava “Big mouth strikes again” direto no dial da Fluminense FM e eu ficava te ouvindo, no radio, depois da escola. O tempo passou, nós dois envelhecemos, mas fico feliz que no decorrer de tantos anos ainda tenhamos uma relação tão próxima, tão bacana.
Por isso fiquei feliz em podermos no ver ontem. Tá, eu te vi, mas você sabia que eu tava ali né? Porra, começar seu show com “First of the gang to die”, minha preferida do “you are the Quarry” foi, tipo, papo reto né? Você deve ter visto um coroa que pulava feito pipoca lá no meio. Era eu. E você bem lembra do quanto eu cantei com você o refrão de “You Have Killed me”, segunda musica do teu show, durante anos e anos quando batiam aquelas fossas e dores de cotovelo juvenis: "As I live and breathe, You have killed me". A juventude sempre é sofrida né cara? E fiquei pensando no quanto, durante a “famosa” crise dos 30, cantei baixinho, pra mim mesmo, a frase da musica seguinte, Alma Matters: “So the life have made may seem wrong to you”. É rapaz, a gente sempre teve uma sintonia fudida né. Como se você escrevesse depois de um papo nosso em uma mesa de bar.
Porra Moz, e que banda essa que você arrumou agora hein brother? O Boz Borrer vestido de mulher, arrebentando em sua Fender Telecaster, que foda! E o tecladista/ trompetista? Enfim, você sempre bem acompanhado né? Só achei caído ter que ficar vendo os caras de sunga o show todo...me poupe da próxima, meu amigo!
Assim como você NÃO PRECISAVA ter feito aquilo né cara...tocar “Everyday is like Sunday”, a musica que você compôs para me fazer companhia naqueles tardios e melancólicos anos 90, em que a vida parecia tão indefinida...golpe baixo brother. Ainda bem que “you’re the one for me fatty” veio na na seqüência, pra disfarçar as lagrimas e me lembrar de uma namoradinha da faculdade. Ops, próxima musica, please.
Brother, eu gosto de carne. Eu como o bichinho (no bom sentido, de fora pra dentro). Passar aquele vídeo de animais sendo mortos nos abatedouros enquanto você cantava “meat is murder”, em uma versão bem mais lenta e diferente da original, me deixou bolado cara. E mais ainda meus amigos, me vendo cantar a letra toda e pensando: “Como o Bolinho é faaalso”.
Assim como fiquei bolado com você “entregar” assim de bandeja pra todo mundo “Let me Kiss you”, a musica que você compôs pra um cara tímido que tirava marra de punk pra não mostrar o quanto era frágil. Porra Moz, era minha musica cara, que explanação!! E neguinho em volta olhando estranho enquanto eu b-e-r-r-a-v-a “But then you open your eyes, And you see someone that you physically despise. But my heart is open for you”.
E aí você veio com aquela…cara, nem sei o que te falar. Só nos dois sabemos o quanto “there’s a light that never goes out” foi companhia para minha vida. É cara, eu te falei, tocou no meu casamento e tudo. E aí foi dureza e você imagina né irmão...dois litros e meio de lagrimas e um filme da vida passando na memória enquanto cantava aquele refrão desgraçado de bonito que você escreveu láá pelos idos de 87. E agradeci por você emendar com “I'm Throwing My Arms Around Paris”, que eu ficava cantarolando com Fabiana durante os dias em que caminhamos pela cidade luz, e que me ajudou a disfarçar os olhos vermelhos que chamavam a atenção do pessoal em volta.
Caralho Moz, e a dobradinha final que você arrumou hein? “Please, Please, Please Let Me Get What I Want”, como todo mundo cantando alto que “pelo menos uma vez na minha vida me deixe ter o que eu quero”, emendada com “How soon is now?” foi matadora hein brother? Aquela gente toda pulando e dançando como se o mundo fosse acabar ali e eu cantando e observando o quanto essa musica ainda é potente cara. Porque no final é isso, tudo se resume a isso né brother? “I am human and I need to be loved just like everybody else does”. É, pode ser. DEVE ser.
E valeu por ter voltado pra tocar um bis Moz. Foi legal da sua parte. Até porque “One Day Goodbye Will Be Farewell” é a melhor musica do seu ultimo disco e deixa claro que tu ainda é um puta compositor, seu inglês desgraçado! E continua com a ironia afiada né? “But one day goodbye will be farewell, and you will never see the one you love again”.
Bem brother, eu espero que até lá eu ainda possa te ver de novo. E valeu pela companhia e força todos estes anos.
Steven Patrick Morrissey, Fundição Progresso, 09 de Março de 2012. Show da minha vida. Ponto.

6 comentários:

  1. Tudo muito bonito, mas como pode um show de Morissey nos negar "Irish Blood, English Heart"??? Pode isso, Arnaldo???

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  2. É Jonnhy, faltou essa, faltou Suedhead...mas foi espetacular - apesar do calor, do desconforto, do som as vezes embolado.
    E fui eu agora ouvir "english heart..."!
    Abraço!

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  3. Esse texto foi lindo. Me emocionei mesmo sem ter ido (vi o de Buenos Aires)

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  4. Melvin, meu herói, valeu pela visita e pelo coment! abraço!

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  5. Emocionante seu relato, Bolinho. Há uma bobona sentimental com os olhos marejados do lado de cá, pode ter certeza! Abraço da Gika!

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  6. VALEU Gika! Foi uma noite especial para um velho balzaco pra lá de sentimental! Beijo!

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