segunda-feira, 9 de maio de 2011

O "indie" ontem e hoje (ou "como as pessoas conheciam musica "alternativa" antes da internet")


A primeira vez que ouvi este termo "indie" foi lá pelo final dos 80's. A revista Bizz tinha uma seção de "top 10 da semana" que era dividida entre "majors" e "Independentes". a grande maioria dos independentes eram bandas inglesas que não gravavam - ou ainda não haviam assinado - com gravadoras majors. Já ligado na parada de "ser do contra" eu tentava conhecer minimamente estas bandas. Foi assim que cheguei à bandas como JESUS AND MARY CHAIN, ECHO AND THE BUNNYMEN e, pasnmem, THE SMITHS (que já tocava na Fluminense FM). Este "correr atrás" significava literalmente perguntar pros amigos se alguem conhecia a banda, se tinha uma fita cassete gravada e...regravar a partir daquela.

Pausa pra explicação:
Existia uma coisa chamada "fita cassete". E alguns aprelhos de som mais "modernos" pra época tinha o chamado "Double deck": dois toca cassetes. Em um você colocava a fita original, a que você queria copiar. No outro, colocava a Fita "virgem", a que seria gravada. E clicava "play" em um e "record" em outro. Simples assim.

voltando...
Já no inicio dos 90's, o termo "indie" voltou com força por causa de uma bandinha de Seattle. Sim, você sabe qual. Antes de estourar com o Nevermind, o Nirvana fazia algum sucesso nas college-radios americanas (as radios de universidades, que só tocavam bandas independentes que, via de regra, enviavam suas fitas demo para estas radios). Por conta disto você pode ver camisas do Nirvana, por exemplo, no clip de "dirty Boots", do SONIC YOUTH, de 1990, antes deles terem lançado o bendito "Nevermind". O termo "indie" neste momento "histórico" denominava todas aquelas bandas dentro do rock que não eram grandes, que faziam rock barulhento ou "esquisito" e que não eram nem Metal nem Punk/ Hardcore. Qualquer bandas com um pedal de distorção desconhecida era denominada de "indie" ou "college".

Bem, desta forma, no incio dos 90's o tal "indie" voltava à tona como sinônimo de "subterrâneo frutífero". As pessoas descobriram que haviam milhares de bandas em garagens e estudios mundo afora que faziam seu som e gravavam por canais fora do esquemão grande gravadora. E muito, mas MUUITO moleque mundo afora re-descobriu o sentido do DIY (do-it-yourself) a partir daí. Ou seja, a segunda leva.

No Brasil, dois programas de radio e um de TV eram "obrigatórios" para a turma que curtia as tais bandas indie: no dial, o "Hell radio", na Fluminense Fm (um dia a Flu - vulgo Maldita - merece um capitulo em Indie-punk-pop) era apresentado por Andre X (baixista da Plebe Rude) e Tom Leão (colunista do jornal O Globo). Através dele, entrávamos em contato com as bandas que "bombavam" no circuito "indie-college" do norte. No "Hell Radio" ouvi pela primeira vez L7, Melvins, TEENAGE FANCLUB, entre outras.

O outro programa de radio era o "College radio", capitaneado por Dodô (hoje DJ no Rio de Janeiro) e Rodrigo Lariú (do selo Midsummer Madness). Eu e uns amigos chamávamos o programa de "programa do Dinosaur Jr". Isto porque eles tocavam a banda de J. Mascis programa sim, programa também. Mas foi ali que ouvi pela primeira vez Yo La tengo, Superchunk e toda aquela turma da Matador records.

Na TV, a MTV tinha, aos Domingos, meia noite, o famoso "Lado B". O "reverendo" Fabio Massari passava clipes de todas aquelas bandas que, de tão obscuras, eram desconhecidas até em guetos de New York ou Londres. O "lado B" era a fonte para vermos bandas como Velocity Girl, Bufallo Tom, Jon Spencer Blues Explosion. Indie pride!

Para conseguir um disco ou fita cassete da bendita banda, era um suadouro de sangue: torcer pra um amigo com grana viajar e trazer o bendito CD, pra alguem da faculdade copiar ou, já no meio dos 90's, ir à uma "locadora de CD's" (como a Spider, em Ipanema) e alugar o CD da banda, copia-lo em fita cassete e ficar um mês inteiro escutando até a fita estragar.

Lembrei disso esta semana, em que dois dos maiores ícones desta "cena" dos 80's e 90's dão as caras no Brasil - Teenage Fanclub & SUPERCHUNK. Porque o "indie", que antes era independente, sinônimo de subterrâneo, de alternativo (outro termo pra lá de usado na época) hoje é acessível ao toque de um clique. Temos Last FM, Soulseek e afins que, em 30 segundos nos conectam a bandas dos subúrbios de Glasgow ou de cidades da Malásia.

Mas e daí? Do que você gosta? O que cada banda desta fez - ou faz - de diferença em sua vida? Que momentos ela te lembra? O caráter de instantaneidade da musica hoje diluiu o alternativo e
subtraiu o apego à musica e à banda. Ou não. Mas mudou a forma como acessamos e nos relacionamos com a musica. E isto por si só e digno de análise.

E eu até hoje lembro de quando meu brother Luciano me emprestou um CD do Teenage Fanclub. E o gosto era o mesmo de conhecer a garota mais bonita do mundo. Sabor, gosto, sensação que, hoje em dia, ainda sinto ao "descobrir" uma banda.

3 comentários:

  1. Rock It!, Hard'n'Heavy, K7 dos Raimundos via Afonso, k7 com shows piratas do Body Count... Mas, apesar do saudosismo, hoje o acesso à tecnologia deixou tudo melhor pra quem gosta de música, tá tudo à mão, a um e-mule (sou velho) ou torrent. O que ficou mais complicado, justamente por isso, é separar o joio do trigo. Mas pensar que qualquer um pode fazer e levar sua música ao resto do mundo é algo fascinante.

    Infelizmente não irei quinta, pois é certo que haverá um jogo 6 entre Bulls e Hawks. Paixões, paixões... (e ainda bem que o Mengão é amanhã, né?)

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  2. Eu também acho que hoje em dia a acessibilidade da musica tornou-a muito, mas muito mais democrática! Sou mega fá de free downloads e afins. MAs tambem percebo-sinto que as novas gerações desenvolvem, com e por isso, uma relação diferenciada com a musica. E isto não necessariamente é "bom" ou "ruim", só diferente.
    Ficamos no aguardo do boletim Dereck Rose!
    Abraço

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  3. Bolinho, você desenterrou algo que nem na minha esclerose lembrava: copiar de uma fita para outra! Adorei este artigo!

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